No debate na RTP com a presença dos líderes dos oito partidos com assento parlamentar, André Ventura, presidente do Chega, defendeu a existência de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) enquanto "não houver esclarecimentos por parte de Luís Montenegro".
Questionado sobre o tema, Luís Montenegro garantiu ter cumprido sempre as suas "obrigações declarativas" e disponível para responder a todos os esclarecimentos solicitados.
"Eu fiz tudo de boa fé nos parâmetros da lei e comportamento ético", resumiu o primeiro-ministro em gestão, sublinhando não ser acusado de qualquer ilegalidade. Em réplica, já depois das considerações de todos os partidos, Luís Montenegro sublinhou que "o objetivo não é o esclarecimento, o objetivo é a luta política pura e dura".
"Eu estou disponível para o escrutínio e para as explicações. O que não é justo é fazerem ofensas à minha honra, à minha honestidade de forma gratuita", acrescentou.
Para o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, Montenegro "fez mesmo tudo para que aquela informação não fosse conhecida durante as eleições" numa referência ao pedido da Entidade para a Transparência de uma nova declaração de interesses designadamente para revelar clientes da Spinumviva, empresa fundada pelo social-democrata e que passou recentemente para os seus filhos.
O socialista argumentou ainda que Montenegro "não tem credibilidade, nem idoneidade para a função de primeiro-ministro".
Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, quis colocar a tónica no facto de o seu partido, embora crítico, ter colocado o "interesse dos portugueses em primeiro lugar", antecipando que os restantes não iriam estar à altura das circunstâncias.
O tema foi comentado por todos os partidos, com Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, e com Rui Tavares, do Livre, a defender que Luís Montenegro não esclareceu devidamente os portugueses quando o assunto foi tornado público. "Ouvi as explicações e votei contra a moção de censura. Eu senti-me enganado, porque [Luís Montenegro] nos ocultou informação", disse Rui Tavares.
Já para Mariana Mortágua, o líder da AD "arrasta o país para a ideia de mediocridade que é a normalização da promiscuidade entre o setor privado e público". "Luís Montenegro é vítima apenas das suas escolhas e da falta de noção que implica ser primeiro-ministro. Eu sou insuspeita, porque acreditei nessa versão que foi contada na Assembleia da República e depois percebemos que não foi nada disso", acrescentou.
Paulo Raimundo, pela CDU, defendeu que Luís Montenegro deveria ter apresentado a sua demissão assim que o caso da Spinumviva ficou conhecido, assumindo que "era um grande contributo que tinha dado à democracia".
Para terminar o assunto da Spinumviva, Inês Sousa Real, do PAN, disse que Luís Montenegro "é um grande artista, porque conseguiu transformar um problema pessoal num problema para o país".
Na passada quarta-feira, o jornal Expresso noticiou que Luís Montenegro submeteu junto da Entidade para a Transparência uma nova declaração, na qual acrescentou sete novas empresas para as quais trabalhou na Spinumviva.
Essa informação foi conhecida pouco antes do debate com o do PS, Pedro Nuno Santos, na quarta-feira à noite, tendo este lançado a suspeita de que o próprio Luís Montenegro o fez feito com o propósito de influenciar o debate.
Montenegro disse não ter difundido nem promovido a difusão do documento e, esta quinta-feira, considerou haver indícios de que o PS "tem muito mais a ver" com a divulgação dos clientes da empresa Spinumviva.
Leia Também: Ventura diz que Montenegro "não gosta da imprensa quando não lhe convém"