Especialista Neil Lawrence considera regulação europeia de IA apressada

Neil Lawrence, um dos especialistas em inteligência artificial (IA), considera que o regulamento europeu sobre a tecnologia foi apressado e que isso terá impacto na sua implementação e que os EUA estão dependentes do poder de algumas empresas digitais.

Notícia

© Shutterstock

Lusa
23/02/2025 21:32 ‧ há 4 horas por Lusa

Tech

Inteligência Artificial

Em entrevista à Lusa, o professor catedrático na Universidade de Cambridge e investigador no Alan Turing Institute, onde analisa o sistema de gestão de dados e o impacto da inteligência artificial na sociedade, refere que não é contra a regulação, quando instado a comentar a legislação europeia sobre IA (AI Act).

 

"Não sou contra a regulamentação, mas [contra] a legislação apressada por pessoas com compreensão limitada da tecnologia e da sua implementação e de quais são os riscos que inevitavelmente sofrerão na sua implementação", afirma o autor do livro "Humano, demasiado Humano: O que nos torna únicos na era da Inteligência Artificial" (The Atomic Human, no original), que será apresentado dia 24 em Lisboa, numa conferência da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

"O problema não é que a Europa queira regular. Sim, é preciso regular. O problema é que falta respeito pelas diferentes perspetivas nos diferentes países e pelas diferentes abordagens que as diferentes empresas têm", aponta.

Defende que é preciso uma compreensão "mais profunda" de como usar esta tecnologia para apoiar na regulamentação, apesar de não ter olhado aprofundadamente para os detalhes recentes do regulamento.

"Não se pode regular uma tecnologia centralmente", tem de ser regulada na sua implementação.

Por exemplo, pornografia ilegal 'online' que não é assente em imagens reais, mas de IA falsa, "é abrangida pela regulamentação existente", questiona.

Este tipo de coisas "continuarão a surgir à medida que as capacidades dos modelos forem aumentando", aponta.

E uma empresa que apresente um agente de atendimento ao cliente como humano e que na verdade não seja? Provavelmente tem de ser regulado, prossegue, dando outros exemplos como a cobrança de direitos autorais de forma abusiva.

Quanto ao atual estado de arte da 'guerra' tecnológica entre EUA, China e Europa na corrida à IA, Neil Lawrence diz que seja corrida ou guerra, isso significa que vai haver "vencedores e perdedores".

"Mas, na verdade, ao participar dessa corrida, vamos todos pelo cano abaixo" e "esse é o verdadeiro problema", adverte.

Os EUA "têm uma história extraordinária e a China também", com perspetivas diferentes e "existem pontos fortes e fracos em cada um deles".

Nos EUA, e vê-se pelos comentários de momento sobre isso, "de alguma forma isto é uma guerra cultural que apenas uma destas duas pode sobreviver", o que é "distópico" pois o que se pretende é a diversidade cultural, diz.

No caso da União Europeia, "diria que está a tentar homogeneizar em vez de construir sobre a diversidade de culturas que existem em toda a Europa".

Ora, "está a cometer o erro de tentar transformar a Europa economicamente na China ou nos EUA, em vez de dizer, bem, na verdade, há força na diversidade", reflete Neil Lawrence.

E o que está a acontecer nos EUA "é o mesmo problema", porque é "um país que é essencialmente liberal democrático, mas é economicamente dependente do poder de algumas empresas".

E estas empresas "estão a assumir cada vez mais o controlo desse poder. Então, vê-se uma mudança do que deveria ser um estado liberal democrático (...) comportar-se de forma autocrática em certos domínios, a Administração está a ser centralizada e gerida digitalmente", sublinha.

As tecnologias estão no centro e esta "é a grande ironia", a de que as pessoas têm alertado sobre isto, "eu tenho tentado alertar há pelo menos uma década sobre o poder que se acumula com as tecnologias digitais, não tendo a ver com IA em si", prossegue.

A IA "pode piorar isso, mas certamente pode melhorar", mas "precisamos que as pessoas entendam esses erros" e que "isso não é uma coisa de ficção científica, do Exterminador com robôs assassinos".

Agora, "esta é a realidade dos humanos a ganharem grande poder através destas tecnologias e a exercer esse poder e estamos a ver isso a manifestar-se agora", conclui.

Leia Também: Especialista defende que não é possível substituir humanos por tecnologia

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas