O portal de notícias online turco Bianet identificou hoje uma série de contas, algumas com dezenas de milhares de seguidores, que estão bloqueadas na Turquia, embora sejam acessíveis a partir do estrangeiro.
Os utilizadores recebem apenas uma mensagem a informar que a suspensão foi executada "em resposta a uma solicitação legal".
Muitas das contas bloqueadas pertencem a estudantes que participaram nos protestos em massa desencadeados pela detenção, na passada quarta-feira, do social-democrata Ekrem Imamoglu, o principal rival do Presidente, Recep Tayyip Erdogan.
Por três dias consecutivos, dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se em Istambul, Ancara e Esmirna, e na sexta-feira à noite, os protestos alastraram a várias províncias, ficando marcados pela repressão policial.
Segundo várias estimativas, os números podem ter atingido mais de meio milhão de pessoas nas ruas em todo o país, nos maiores protestos na Turquia desde 2013.
O ministro do Interior turco informou hoje que foram detidas mais de 340 pessoas nos protestos, que na sexta-feira foram reprimidos com balas de borracha, gás lacrimogéneo e canhões de água, com destaque para os confrontos em Istambul e Izmir (oeste).
Desde o momento da detenção de Imamoglu, por alegadas suspeitas de corrupção e ligações ao terrorismo, redes sociais como o X e o Instagram deixaram de funcionar corretamente, à semelhança do que acontece há anos durante as crises políticas na Turquia.
A oposição atribui as falhas a uma restrição temporária da largura de banda a pedido das autoridades.
Embora as autoridades também utilizem o X continuamente para distribuir declarações, a rede é utilizada especialmente por ativistas e manifestantes, que criticam os meios de comunicação tradicionais e as principais cadeias de televisão por não darem voz às suas reivindicações e mal noticiarem os protestos.
O líder do principal partido da oposição, o Partido Republicano Popular (CHP), Özgür Özel, alertou hoje os meios de comunicação pró-governamentais que os sociais-democratas usarão o seu "poder de consumidor" para os boicotar se não noticiarem a verdade sobre os acontecimentos.
"Estou a dirigir-me aos grandes meios de comunicação", disse Özel numa conferência de imprensa em Istambul, na qual afirmou que a maioria dos meios de comunicação turcos estava a espalhar informações incompletas e até mentiras, com base em ordens e "chamadas de cima".
Na quinta-feira, o Conselho de Radiodifusão da Turquia (RTÜK) multou quatro cadeias de televisão independentes que fizeram uma ampla cobertura dos protestos, que estão proibidos pelas autoridades.
Imamoglu deveria ser anunciado no domingo como candidato do CHP às próximas eleições presidenciais, assumindo-se como principal adversário de Erdogan.
Mas a universidade estatal de Istambul cancelou o diploma de Imamoglu na terça-feira à noite, criando-lhe mais um obstáculo, uma vez que a Constituição exige que qualquer candidato à presidência tenha um título de ensino superior.
Imamoglu foi reeleito em 2024 depois de conquistar autarquia de Istambul em 2019 ao Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco), a formação islâmica conservadora no poder liderada por Erdogan.
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