Prémio Salavisa contraria onda de redução mundial do apoio às artes

A artista anglo-ruandesa Dorothée Munyaneza disse hoje à Lusa que a atribuição do Salavisa European Dance Award da Fundação Calouste Gulbenkian é um sinal positivo que contraria a tendência mundial de redução do apoio às artes, como a dança.

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© Márcia Lessa - Fundação Calouste Gulbenkian

Lusa
27/11/2024 22:36 ‧ há 2 horas por Lusa

Cultura

Gulbenkian

O prémio, no valor de 150 mil euros, entregue hoje à noite numa cerimónia na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, distingue artistas de todo o mundo com talento ou qualidades especiais que mereçam ultrapassar as suas fronteiras nacionais, visando apoiá-los na projeção internacional.

 

Contactada pela agência Lusa, a artista - que vai dividir o galardão com o coreógrafo e bailarino moçambicano Idio Chichava - disse sentir-se "muito honrada por receber" o galardão.

Os vencedores foram escolhidos entre cinco finalistas por um júri independente composto por Mette Ingvartsen, Nayse López e Fu Kuen Tang, que destacaram as "abordagens artísticas particularmente bem-sucedidas" e a "ligação profunda" dos artistas aos seus contextos culturais e sociais.

"Estamos a assistir à diminuição e até ao desaparecimento de apoios às artes em todo o mundo. Ver prémios com esta dimensão ajuda a pensar que a nossa situação não é assim tão frágil", comentou a artista africana sobre o valor significativo do galardão.

Nascida no Ruanda, Dorothée Munyaneza estudou música e ciências sociais em Londres, mudou-se para Paris, onde trabalhou com vários coreógrafos, e, em 2013, criou a sua própria companhia, Kadidi.

Dorothée Munyaneza utiliza música, canto, texto e movimento para abordar temas de rutura, "criando espaços de ressonância e esperança", e desenvolvendo obras que, segundo o júri, "articulam história, trauma, amor e esperança, usando o corpo como instrumento narrativo e emocional".

"Nunca duvido do valor do meu trabalho para mim e para a comunidade para a qual trabalho, portanto ter um apoio e reconhecimento é muito encorajador", sublinhou à Lusa.

A viver em França há 13 anos, agora no sul, passou os últimos 30 anos na Europa, tendo deixado o Ruanda com os pais, pouco antes do genocídio, em 1994.

Dorothée Munyaneza diz estar muito orgulhosa do seu trabalho: "Fiz algo de bom e ainda tenho a força para continuar", comentou, sobre a companhia Kadidi, com a qual tem criado peças que falam sobre genocídio ou a brutalidade do uso da violação como arma de guerra.

"O que vivemos em 1994 está sempre comigo e não consigo esquecer nunca. Tenho trabalhado em coreografias autobiográficas para contar histórias que estão intimamente ligadas ao genocídio e à violência, de como os seres humanos lutam contra os seus semelhantes e compatriotas", disse.

Segundo o júri do prémio, a artista "aborda onde mais dói, articulando história, trauma, mas também amor e esperança, com uma profunda compreensão do corpo e do seu potencial para contar histórias e criar espaços emocionais".

A intenção de Dorothée Munyaneza, como africana vivendo na diáspora, é "nunca olhar para estes acontecimentos de forma superficial", porque sente a necessidade de contar as histórias das pessoas marginalizadas e ignoradas.

A portuguesa Catarina Miranda, a marroquina Bouchra Ouizguen, e a franco-argelina Dalila Belaza estavam entre os cinco finalistas da edição inaugural do prémio europeu de dança Salavisa lançado pela Gulbenkian.

Criado em 2023, o Salavisa European Dance Award homenageia o legado do bailarino e diretor artístico português Jorge Salavisa (1939-2020), sendo atribuído de dois em dois anos a artistas que ainda não alcançaram grande visibilidade no circuito europeu.

O júri desta edição incluiu Mette Ingvartsen, coreógrafa dinamarquesa que combina dança com artes visuais e tecnologia, Nayse López, curadora e diretora artística do Festival Panorama, e Fu Kuen Tang, dramaturgo e curador sediado em Banguecoque, com projetos em diversas plataformas na Europa e Ásia.

Leia Também: Idio Chichava e Dorothée Munyaneza vencem Prémio Salavisa de Dança

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