Falando na sessão de encerramento do encontro de escritores de expressão ibérica, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que "sem Correntes d'Escritas, Póvoa é menos Póvoa, norte é menos norte, Portugal é menos Portugal, língua é menos língua, pessoas são menos pessoas e viver é menos viver".
"Decidi este ano homenagear esta iniciativa. Devia ter sido há um ano, mas eu há um ano não estava cá. Não ia enviar a condecoração por vídeo, não ia comunicar por videoconferência. Há que condecorar a ideia, o conceito, a obra chamada Correntes d'Escritas. Fá-lo-ei no final destas palavras, entregando as correspondentes insígnias ao senhor presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim", afirmou.
Recuando ao passado, Marcelo Rebelo de Sousa passou em revista a sua ligação aos livros, como leitor compulsivo, colecionador, promotor de bibliotecas, bibliotecário esporádico da escola de Direito, editor sem ganhar dinheiro por isso e comentador literário.
Mas, também "desde os tempos em que a liberdade e a democracia eram como são, um sonho a construir todos os dias, e nos mundos havia mais liberdade e mais democracia do que hoje, e não se convertiam noutra coisa, em direto, nos ecrãs, nas plataformas que crescem ao ritmo do minguar da aceitação da diferença e da sua expressão", acrescentou.
Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu ainda agradecimentos aos organizadores, aos escritores, aos editores e "aos estoicos livreiros, que ainda resistem, poucos, com as rendas [que têm]".
No início da intervenção, dirigindo-se ao secretário de Estado da Cultura, Alberto Santos, o presidente da Republica lembrou: "não se esqueça que é a terceira vez que falamos da sua obrigação de proteger o livro. Foi na posse, foi há pouco e agora em público".
Recordando o passado de Alberto Santos ligado à promoção do meio literário, Marcelo Rebelo de Sousa instou-o a ser "em governante do país aquilo que foi em governante autárquico".
Antes de entrar do cineteatro Garrett, onde iria encerrar o encontro, o Presidente da República visitou, na companhia do secretário de Estado, uma feira do livro no exterior do recinto.
No breve périplo, em que Marcelo Rebelo de Sousa ia cantando enquanto recolhia livros para comprar, dirigiu a Alberto Santos a sua preocupação em relação ao facto de "este Ministério [da Cultura] estar muito centrado no património", apelando a que o governante não se esqueça do livro.
Falando sobre o cheque-livro, o presidente considerou que era uma "boa ideia", mas que "não cobriu todas as expectativas", reconheceu que "tem o problema de ter ficado aquém, ter demorado tempo a ser lançado e ter poucos meios disponíveis".
Durante a sessão de encerramento, foi ainda entregue o Prémio Literário Casino da Póvoa à poeta Andreia C. Faria, que, no discurso de aceitação, disse que ninguém se entendia sobre o que é a poesia, razão por que prefere "falar em poemas em vez de falar em poesia".
"Os poemas são raros, são o sonho da linguagem, o sonho de uma língua comum. A poesia está na rua, mas os poemas são mais esquivos. E, no entanto, quando escrevemos ou lemos um poema que nasce dessa noite comum da espécie, reconhecemo-lo. Sabemos que fala de nós e para nós", acrescentou.
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