A composição de João Pais Filipe foi interpretada ao vivo em fevereiro do ano passado, no Batalha -- Centro de Cinema, no Porto, no âmbito de um ciclo dedicado ao coletivo mexicano organizado pelo Batalha com o londrino Instituto de Artes Contemporâneas.
Em declarações à Lusa, o músico português explicou que a versão em disco difere do que foi tocado ao vivo por ser mais pensada e fruto de montagem de várias partes.
"Quando me convidaram para musicar o filme em tempo real, comecei a preparar, mas tinha pensado em várias partes, em usar vários instrumentos. Como o filme é muito rápido e frenético, não há paragens, não existe qualquer tipo de passagens, percebi que não funcionava. Então, decidi tomar uma decisão um bocado radical que foi tocar o tempo do filme também num ritmo bastante rápido, sem parar, só com mudanças de timbres", afirmou João Pais Filipe, que realçou a componente física da experiência.
Por outro lado, para o registo gravado já foi possível fazer "uma coisa mais adequada", com o registo de partes separadas e depois unidas no disco.
O músico português, que tem colaborado com vários artistas nacionais e internacionais, afirmou que há uma previsão de repetir o filme-concerto em maio, em Londres.
"A música de João Pais Filipe percorre um caminho de purificação sensorial, interpretando livremente a dimensão contingente e xamânica que o coletivo introduz (e reivindica) através do seu multifacetado e politicamente marcado cinema de agitation", escreveu o diretor do Batalha, Guilherme Blanc, num texto enviado à Lusa.
Blanc prossegue que a expressão 'teocalli', na língua nauatle asteca, "possui vários significados: pode indicar um 'lugar sagrado', uma 'energia criativa' ou algo 'divino'; também pode descrever a base piramidal onde os templos são construídos".
"Entre elementos geológicos, naturais, cósmicos, humanos e ilustrações históricas, o filme abre múltiplas possibilidades de imersão cognitiva e sensorial. Foi precisamente dessa força visual motriz que surgiu a composição de João Pais Filipe, abraçando as suas fraturas, circularidades e interrupções, num estado de transe", escreveu o diretor do Batalha.
Formados em 2012, em Tehuacán, no México, Los Ingrávidos surgem "da necessidade de desmantelar a gramática audiovisual que o corporativismo estético-televisivo-cinemático usou e continua a usar para garantir eficazmente a difusão de uma ideologia audiovisual através da qual um controlo social e percetivo é mantido sobre a maioria da população", na descrição do coletivo.
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