Desde que atuaram juntos nos festivais de Mannheim e de Gstaad, em 2023, Matthias Goerne e Maria João Pires têm sido considerados pela crítica internacional como "uma combinação perfeita", para este ciclo de canções, somando elogios nas publicações especializadas.
"Os dois gigantes" oferecem uma "sublime 'Viagem de Inverno'" com "vasto domínio da narrativa, dicção e compreensibilidade", escreveu a plataforma Backtrack.com, após a estreia, concluindo tratar-se de "uma combinação perfeita, um concerto único na vida".
Para o Forum Opera, "desde primeiras notas ao piano de 'Gute Nacht'", a canção de abertura de 'Viagem de Inverno', "todo o Schubert está no toque de Maria João Pires, essa mistura indescritível de modéstia, simplicidade, franqueza, evidência, proximidade, [...] o peso certo dado a cada nota, uma forma de avançar e acentuar que intuitivamente sentimos como certos nos sítios certos".
"Esta sensação está presente durante todo o concerto", permitindo "descobrir notas, contrapontos, pequenas combinações, pequenos nadas que nunca ouvimos antes", escreveu o Forum Opera sobre a interpretação da pianista portuguesa, depois da atuação no Festival de Gstaad, na Suíça, em agosto de 2023.
Esta plataforma analisa a interpretação de Maria João Pires e de Matthias Goerne em cada uma das 24 canções do ciclo de Schubert, destacando em particular a leitura da pianista portuguesa.
Maria João Pires é uma premiada intérprete de Schubert, compositor com que também foi nomeada para os Grammy, e Matthias Goerne soma gravações distinguidas dos ciclos de canções do compositor, nomeadamente de 'Viagem de Inverno', com pianistas como Alfred Brendel, Graham Johnson e Christoph Eschenbach.
Dedicado à figura romântica do viajante, 'Viagem de Inverno' ('Winterrise', no original), segundo a Fundação Gulbenkian, "é uma obra-prima absoluta da história da música e um monumento da cultura germânica".
As 24 canções para voz e piano têm por base os poemas de Wilhelm Müller, autor que Schubert já tinha trabalhado no ciclo 'A Bela Moleira' ('Die schöne Müllerin').
Os poemas narram em sequência a história de um jovem enamorado que, numa noite gelada, perante a impossibilidade do amor, se vê forçado a partir, deixando para trás os dias de verão e a jovem mulher por quem se apaixonara. Entra assim numa deambulação pela longa noite de inverno, cheia de melancolia e introspeção, até ao encontro com o 'Homem do Realejo', figura que representativa da morte, em muitas ilustrações medievais.
Nos poemas de Müller e nas canções de Schubert prevalece a ambiguidade da viagem sem fim. No termo da obra, pela primeira vez, o viajante sente afinidade com alguém, acabando por perguntar ao mendigo: "Estranho ancião, seguirei contigo? Acompanharás com a tua viela as minhas canções?"
Schubert iniciou a composição da 'Viagem de Inverno' em fevereiro de 1827, sobre os primeiros 12 poemas de Wilhelm Müller, que entretanto estendeu a narrativa a mais 12. O compositor acompanhou a extensão da obra, concluindo as 24 canções de 'Viagem de Inverno' no último trimestre desse ano.
Dessa fase, os dois últimos anos de vida do compositor, datam obras igualmente decisivas para a História da Música Europeia como os "Impromptus" e a Fantasia D934, as três últimas sonatas para piano, a 'Sinfomia Grande' e o ciclo 'O Canto do Cisne'. Schubert morreu em novembro de 1828, aos 31 anos.
Depois de Lisboa, Maria João Pires e Matthias Goerne voltam a encontrar-se para a 'Viagem de Inverno', no final de setembro, no Muziekgebouw, nos Países Baixos.
No final da digressão asiática que ambos completaram em outubro passado, Matthias Goerne escreveu na rede social Instagram: "Obrigado, Maria João Pires. Inesquecível!"
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