Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Gondomar, Marco Martins, explicou que a capela localizada na freguesia de Melros, no lugar de Branzelo, "está há séculos ao serviço da comunidade local", lembrando que aquela zona foi "a mais atingida pelos incêndios do verão de 2024", que destruíram o templo.
"A verdade é que este património é privado, não obstante estar sempre ao serviço da comunidade, [mas] não tinha enquadramento daquilo que era o apoio governamental. E por isso, a Comissão de Coordenação [Desenvolvimento Regional], que trabalha connosco e com a fundação, arranjou aqui uma forma de ver o financiamento, que é muito bem-vindo e que sem o qual não se poderia recuperar", explicou Marco Martins.
De acordo com o autarca, a fundação irá apoiar "com 375 mil euros", enquanto a câmara municipal, a junta de freguesia e a comunidade local "vão dar mais uma ajuda", adiantando que a estimativa de recuperação do edifício estará entre "450 e 500 mil euros".
Marco Martins lembrou ainda que a capela, "além da questão religiosa e da visitação", é um local de encontro de famílias, pois fica num local alto, "com vistas sobre o rio Douro, fantásticas", sublinhando que com o apoio hoje traduzido em protocolo vai ser possível recuperá-la para que, em setembro, possa haver de novo "usufruto para a população e para que a festa que ali se celebra [anualmente] possa acontecer".
A cerimónia que decorreu no Diwan do Imamat Ismaili, em Lisboa, contou com a presença do príncipe Amyn Aga Khan, e reuniu, entre outros, o Núncio Apostólico e o patriarca de Lisboa, bem como representantes do Governo, da Câmara de Gondomar e das várias estruturas do Imamat Ismaili, entre os quais o seu representante diplomático em Portugal, Nazim Ahmad.
Marco Martins disse à Lusa que a cerimónia permitiu ver "que várias religiões, várias crenças trabalham em conjunto, em sinal de paz e de harmonia", reconhecendo que atualmente sê vê no mundo "muita guerra naquilo que deriva de diferenças religiosas e económicas mas, quando há mais harmonia e se consegue conciliar e trabalhar em conjunto na comunidade, todos têm a ganhar".
Nazim Ahmad lembrou o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido com a igreja católica e as relações inter-religiosas entre ambos "há mais de 25 anos".
Para Elvira Duarte, representante da família proprietária do edifício, a fundação Aga Khan "foi um anjinho do céu que apareceu" para ajudar a recuperar a capela da Nossa Senhora da Aflição, que se encontra na posse da família desde 1953.
"É um bem que sempre acompanhámos, desde pequeninos até hoje e, de repente foi destruído, foi muito complicado", contou Elvira Duarte, reconhecendo que a fundação é o apoio que precisavam, "porque de outra forma seria impossível recuperá-la".
Para Elvira Duarte a importância da capela não se esgota só na sua família, admitindo que, em termos de comunidade envolvente, e não só, "é uma mais-valia", por se tratar de um "espaço de grande devoção, de oração".
"Penso que todos nós ficamos a ganhar com estas parcerias, portanto é uma mais-valia", sublinhou, esperando que a obra esteja concluída a tempo da grande festa de 07 de setembro, apesar de reconhecer que será "um esforço muito elevado" para ter o mínimo necessário para realizar a celebração e a procissão anual.
O projeto de recuperação será liderado pelo Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC), em colaboração com a autarquia de Gondomar, a paróquia local e a família proprietária, destacando-se "como um exemplo de resiliência comunitária e valorização do património cultural e espiritual".
A Fundação Aga Khan é presença ativa em Portugal desde 1983.
Portugal destacou-se, por ter sido o primeiro Estado não muçulmano a assinar acordos com o Imamat (o Estado sem pátria dos xiitas), reconhecendo-lhe um estatuto semelhante ao Vaticano.
Em 2017, a fundação doou cerca de meio milhão de euros para ajudar a reconstruir casas afetadas pelos incêndios de Pedrógão Grande.
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