"A barreira psicológica dos três mil dólares por onça parece ser um cenário realista, se tivermos em conta o facto de o preço estar, neste momento, 'apenas' a 3,5% desse valor", salienta Henrique Tomé, analista da Xtb, à Lusa.
Os catalisadores por detrás do comportamento do ouro "têm sido, sobretudo, as incertezas que pairam em torno das questões geopolíticas e, também, em torno de uma guerra comercial", nota.
Ainda assim, o analista destaca que "se tivermos em conta outros fatores que também influenciam o comportamento dos metais preciosos - como o comportamento do dólar americano e também das 'yields' dos EUA (nas maturidades a dois e 10 anos) -, então podemos até assumir que existem alguns fatores de risco".
Olhando para o calendário, esta semana "teremos eventos importantes no mercado, como a publicação dos dados sobre a inflação nos EUA referente ao mês de janeiro", diz, que poderão influenciar a cotação do ouro: "o aumento da volatilidade poderá levar os preços a aproximarem-se mais da tal barreira psicológica dos 3.000 dólares, mas também devemos considerar o cenário de correção nos preços caso os dados surpreenderem pela negativa".
Já a UBS aumentou recentemente a previsão para a cotação do ouro para 3.000 dólares/onça para 2025, porque acredita que "o metal amarelo continuará a ser apoiado durante as condições frágeis do sentimento de risco e forte procura".
Além da incerteza tarifária e tensões geopolíticas, "novas reduções das taxas da Reserva Federal mais tarde este ano também deverão impulsionar os argumentos de investimento no ouro", aponta Mark Haefele, diretor de Investimentos da UBS Global Wealth Management, numa nota de análise.
O analista destaca também que, na semana passada, dados do Conselho Mundial do Ouro mostraram que as compras líquidas dos bancos centrais excederam 1.000 toneladas métricas pelo terceiro ano consecutivo em 2024.
Diego Franzin, diretor de estratégias de carteira da Plenisfer Investments, parte da Generali Investments, também salienta que há estimativas para este ano que sugerem que o ouro poderá atingir os 3.000 dólares por onça, nomeadamente tendo em conta um "potencial ressurgimento da inflação impulsionado pelas políticas fiscais e comerciais do novo Presidente Trump, bem como pelas expectativas de um novo aumento na dívida pública recorde dos EUA".
Para o analista, o ouro "continuará a ser um forte elemento de diversificação, ajudando a reduzir a volatilidade da carteira graças à baixa correlação com outros ativos e continuará a oferecer proteção contra a inflação, que historicamente ocorre em ondas e poderá, especialmente nos EUA, permanecer acima dos níveis atualmente previstos pelos mercados".
Este metal precioso continuará também a ser visto "como um ativo seguro em tempos de incerteza económica ou geopolítica".
Há também analistas citados pela DBRS que preveem que o ouro poderá atingir os 3.000 dólares este ano e os 4.000 no próximo ano, "já que os bancos centrais de países hostis aos EUA continuam a acumulá-lo como um refúgio das sanções dos EUA".
Os bancos centrais "têm feito isso desde que os EUA congelaram as reservas internacionais da Rússia, quando invadiram a Ucrânia no início de 2022", indicam os analistas Ed Yardeni e Eric Wallerstein.
Na segunda-feira, o Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma nova tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. Isto motivou uma subida na cotação do ouro, que durante a sessão desta segunda-feira atingiu um novo máximo histórico de 2.910 dólares por onça.
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