Para Berlim, os mísseis Taurus de longo alcance só poderiam ser utilizados se os alemães também assumissem a responsabilidade pela pilotagem dos alvos, justificou o chanceler Olaf Scholz, em conferência de imprensa à margem da cimeira do G20 no Rio de Janeiro.
"Mas isto é algo pelo qual não posso nem quero ser responsável", prosseguiu o chefe do Governo alemão, defendendo que a entrega dos mísseis "não seria correta".
Olaf Scholz tem recusado o fornecimento de Taurus, que têm um alcance superior a 500 quilómetros, argumentando com o risco de escalada de tensão entre a Rússia e o Ocidente.
Mas a luz verde anunciada no domingo pelos Estados Unidos a Kyiv para a utilização de mísseis norte-americanos de longo alcance contra a Rússia trouxe o assunto de volta.
Após meses de hesitação, a administração do Presidente cessante, Joe Biden, tomou esta decisão poucas semanas antes de o republicano Donald Trump chegar ao poder.
Olaf Scholz já não vai mudar a sua posição, de acordo com o gabinete do chanceler alemão, que enfrentará eleições no início de 2025 e apesar da posição contrária de várias forças políticas do seu país.
O antigo ministro da Defesa britânico Ben Wallace criticou hoje duramente a recusa da Alemanha em entregar à Ucrânia mísseis com capacidade de atingir em profundidade o território russo.
"Convido o chanceler alemão a reconsiderar a sua oposição algo teimosa e desajeitada à utilização do Taurus, o que o coloca numa posição muito estranha em comparação com os franceses e britânicos", que têm fornecido mísseis de longo alcance "há mais de um ano" a Kyiv, disse Wallace.
Olaf Scholz "fez tudo o que não devia ser feito", porque "claramente não compreende o que é a dissuasão", acrescentou o antigo governante, dizendo-se "aliviado" com a ideia de que o chanceler social-democrata abandone em breve o poder.
Estão previstas eleições antecipadas para fevereiro na Alemanha e os conservadores estão à frente nas sondagens.
"Olaf Scholz é provavelmente mais adequado para cuidar de um subcomité de uma comissão de planeamento de um conselho municipal do que de um dos maiores países da Europa", criticou ainda Wallace.
Ao mesmo tempo, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, anunciou hoje a entrega de quatro mil drones sofisticados a Kyiv, que perde terreno quase todos os dias na frente leste para as forças russas.
"São drones controlados por inteligência artificial e que podem desativar as defesas eletrónicas dos drones adversários", explicou à imprensa.
Estas unidades, que serão entregues ??muito rapidamente, são capazes de atuar num alcance de 30 a 40 quilómetros em território russo e "atacar postos de combate, nós logísticos e outros", acrescentou.
Berlim anunciou em junho a entrega de milhares de drones à Ucrânia, sem especificar as suas características técnicas.
Os drones de alta tecnologia são fabricados pela Helsing, uma empresa europeia especializada em inteligência artificial de defesa que assinou um contrato com o Ministério da Defesa ucraniano em setembro, segundo o diário Bild.
As críticas dirigidas ao chanceler Scholz sobre os Taurus somam-se a já outras e bastante numerosas, incluindo do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, devido à sua conversa telefónica sobre a Ucrânia com o líder russo, Vladimir Putin, na semana passada.
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