É a primeira vez que o Hamas, através de um vídeo divulgado pelo porta-voz das Brigadas al-Qassam (braço armado do movimento), confirma "o martírio do comandante Deif".
Em agosto do ano passado, o Exército israelita anunciou que o tinha abatido num ataque aéreo na zona humanitária de al-Mawasi, no sul da Faixa de Gaza, no dia 13 do mês anterior, juntamente com o seu braço direito, Rafaa Salameh.
Este ataque israelita matou também outros 90 palestinianos e fez mais de 300 feridos, segundo as autoridades locais, controladas pelo Hamas.
"Os nossos líderes mártires alcançaram o seu objetivo de martírio pelo amor de Deus, que é o objetivo final dos seus desejos como uma conclusão abençoada para as suas vidas cheias de trabalho pelo amor de Deus", declarou, no vídeo hoje divulgado, o porta-voz das Brigadas al-Qassam, Abu Obeida.
Obeida confirmou ainda as mortes de Marwan Issa, vice-chefe do estado-maior das Brigadas al-Qassam, e de três outros combatentes.
"Foram mortos na maior batalha que o nosso povo já conheceu na sua história, em prol da causa mais sagrada à face da Terra. Venceram quando inspiraram o nosso povo", afirmou ainda o porta-voz.
O antigo obscuro líder militar do Hamas foi um dos alegados mentores do ataque de 07 de outubro de 2023 em Israel, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza, e era considerado o "número dois" do grupo islamita no enclave, apenas atrás de Yahya Sinouar, também morto no ano passado numa operação israelita em Rafah.
Estava desde a década de 1990 na lista dos homens mais procurados de Israel, que o considerava responsável por planear e executar vários ataques terroristas, incluindo atentados suicidas, e figurava desde 2015 na lista de "terroristas internacionais" dos Estados Unidos.
Desde novembro, tinha também pendente um mandado de detenção do TPI, apesar do anúncio israelita da sua morte.
Na altura, o tribunal internacional sediado em Haia emitiu mandados de detenção para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e para o então ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes contra a humanidade e crimes de guerra relacionados com o mais recente conflito na Palestina.
O TPI emitiu igualmente um mandado de detenção para Mohammed Deif, por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos nos territórios israelitas e palestinianos a partir 07 de outubro de 2023.
Nascido em 1965 no campo de refugiados de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, Mohammed Diab Ibrahim al-Masri, conhecido como Mohammed Deif, juntou-se ao Hamas no início da Primeira Intifada, em 1987.
Foi subindo na hierarquia do Hamas até chegar a líder das brigadas al-Qassam em 2002 e é-lhe atribuído um papel fundamental na vasta rede de túneis construída sob a Faixa de Gaza.
Os seus inimigos chamavam-no "o gato com nove vidas" devido às numerosas ocasiões em que escapou de atentados e ataques israelitas e várias tentativas de o capturar vivo ou morto.
No entanto, perdeu a mulher e o filho de sete meses em 2014 num ataque israelita.
As suas aparições públicas eram raras, tal com as imagens dele conhecidas. Em vários vídeos, aparecia por vezes mascarado ou em silhueta e, em janeiro de 2024, Israel publicou uma fotografia de Deif sem um olho, sem especificar quando foi tirada.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque do Hamas em Israel em 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala, que provocou mais de 47 mil mortos, na maioria civis, segundo as autoridades locais, e destruiu o enclave palestiniano.
[Notícia atualizada às 20h12]
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