M23 cancela ida a Luanda porque há "instituições internacionais" a sabotar paz

O grupo armado M23 cancelou a participação nas negociações com o governo da República Democrática do Congo (RDCongo), previstas para terça-feira, acusando "certas instituições internacionais" de sabotarem os esforços de paz, na sequência das sanções impostas pela União Europeia.

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Lusa
17/03/2025 18:13 ‧ há 5 horas por Lusa

Mundo

Angola

O anúncio foi feito pelo porta-voz do movimento, Lawrence Kanyuka, através da rede social X, onde atribui a "instituições internacionais" responsabilidade por impossibilitar as conversações que iam acontecer em Luanda.

 

A União Europeia (UE) adotou hoje sanções contra uma refinaria sediada em Kigali e nove pessoas ligadas às recentes ofensivas do grupo rebelde M23 no leste da RDCongo.

O Movimento 23 de março (M23) tinha anunciado anteriormente que iria enviar cinco delegados a Luanda para participar no diálogo com o Governo da RDCongo, respondendo ao pedido das autoridades angolanas.

"A Aliança Rio do Congo (AFC/M23) lamenta profundamente constatar que certas instituições internacionais se empenhem deliberadamente na sabotagem dos esforços de paz na República Democrática do Congo e em tornar impossíveis as conversações tão esperadas", escreveu Lawrence Kanyuka há menos de uma hora no X.

O responsável da comunicação do movimento salienta, numa referência implícita à União Europeia, que as sucessivas sanções impostas aos membros do M23, incluindo as que foram adotadas na véspera das conversações em Luanda "comprometem gravemente o diálogo direto e travam qualquer avanço".

No comunicado, o AFC/M23 critica "esta atitude incompreensível, equívoca e ambigua que mais não faz do que reforçar Félix Tshisekedi (Presidente da RDCongo) na sua política belicista".

O AFC/M23 chama também a atenção da opinião pública para que as forças aliadas do regime de Kinshasa "prosseguem a campanha belicista através de múltiplos ataques por terra e bombardeamento indiscriminados em zonas densamente povoadas", além das posições dos rebeldes, utilizando caças e drones de combate tipo CH-4.

"Nestas condições, a participação nas negociações tornou-se impossível. Em consequência, a nossa organização não pode manter a sua participação nas discussões", conclui o comunicado assinado por Lawrence Kanyuka.

Esta seria a primeira oportunidade para uma negociação direta entre o M23 e o governo congolês, que Kinshasa tinha recusado até agora.

O Governo da RDCongo tinha também confirmado a participação nas negociações de paz.

"Recebemos o convite do mediador [o Presidente angolano, João Lourenço] e vamos ouvi-lo. Uma delegação congolesa vai viajar para Luanda na terça-feira, por iniciativa dos mediadores", disse Tina Salama, porta-voz do Presidente da RDCongo, Félix Tshisekedi.

Salama confirmou a participação do seu país depois de João Lourenço ter apelado a um cessar-fogo entre as partes a partir de domingo para facilitar as negociações.

O M23 - que, segundo a RDCongo e países como os EUA, Alemanha e França, é apoiado pelo Ruanda --- controla as capitais das províncias do Kivu do Norte e do Sul, que fazem fronteira com o Ruanda e são ricas em minerais essenciais para a indústria tecnológica e para o fabrico de telemóveis.

O número de mortos no conflito na capital do Kivu do Norte, Goma, e arredores ultrapassou os 8.500 desde janeiro, de acordo com informações prestadas pelo ministro da Saúde Pública congolês, Samuel Roger Kamba, no final de fevereiro.

Naquela província, a atividade armada do M23 - um grupo constituído sobretudo por tutsis, que sofreu o genocídio do Ruanda em 1994 - foi retomada em novembro de 2021 com ataques-relâmpago contra o Exército congolês.

Desde 1998 que o leste da RDCongo está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo Exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU (Monusco).

[Notícia atualizada às 21h49]

Leia Também: RD Congo confirma participação nas negociações de paz mediadas por Angola

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