Esta comissão foi criada pela presidência provisória síria na sequência dos massacres de mais de 1.600 civis, sobretudo alauitas, durante confrontos entre as forças de segurança e militares leais ao presidente deposto, Bashar al-Assad, no oeste do país, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
As forças de segurança, grupos armados aliados e 'jihadistas' estrangeiros foram responsabilizados por estas atrocidades, as mais graves desde que uma coligação liderada pelo grupo radical islâmico sunita Hayat Tahrir al-Sham (HTS) derrubou Assad do poder, a 08 de dezembro de 2024.
Numa conferência de imprensa em Damasco, o porta-voz da comissão, Yasser al-Farhan, indicou que esta iniciou o seu trabalho no terreno a 14 de março, na província de Latakia.
Foram realizadas entrevistas a responsáveis oficiais e de segurança, bem como a "centenas de familiares e testemunhas", precisou, acrescentando que a investigação prossegue.
A comissão recolheu "mais de 95 testemunhos" e recebeu "mais de 30 depoimentos orais e escritos através de contacto direto com os seus membros", continuando a obter mensagens através de plataformas digitais.
O OSDH denunciou massacres que dizimaram famílias inteiras e "execuções sumárias", perpetrados sobre a minoria alauita, em especial nos dias 07 e 08 de março.
A organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos e ativistas divulgaram vídeos de execuções de pessoas desarmadas e trajadas à civil.
As autoridades acusaram os grupos armados pró-Assad de alimentarem a violência na costa, efetuando ataques sangrentos contra as suas forças.
Farhan declarou que a comissão analisou "93 elementos de prova digital" e se reuniu com equipas da ONU.
Segundo o porta-voz, a comissão estenderá o seu trabalho às províncias de Tartus, Banias, Hama e Idlib nas próximas semanas. Insistiu, contudo, ser ainda demasiado cedo para "revelar pormenores".
A região continua a ser perigosa, de acordo com o porta-voz da comissão de inquérito, uma vez que "as pessoas envolvidas em crimes contra a humanidade ali continuam em liberdade".
"Ainda aguardamos a adoção de uma lei sobre a justiça de transição na Síria", afirmou Farhan, acrescentando que "muitos sírios acreditam que poderia ser criado um tribunal nacional especial para julgar os responsáveis por crimes de guerra e crimes contra a humanidade".
As autoridades comprometeram-se a criar uma justiça de transição, mas as execuções sumárias e os atos de vingança continuam a decorrer com regularidade, de acordo com o OSDH.
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