"Yasin Akgül não estava a manifestar-se, estava a cobrir como jornalista um dos muitos comícios organizados no país desde quarta-feira, 19 de março", na sequência da detenção do presidente da câmara de Istambul, o opositor Ekrem Imamoglu, sublinhou o diretor executivo da AFP numa carta.
Na carta, Fries considerou "inaceitável" a detenção, decidida hoje por um juiz local, de Agkul.
"A detenção é inaceitável e é por isso que lhe peço que intervenha o mais rapidamente possível para garantir a rápida libertação do nosso jornalista", sublinha Fabrice Fries, na carta dirigida ao secretário-geral da Presidência turca, Hakki Susmaz.
"O trabalho de um fotógrafo é estar onde os acontecimentos estão a ter lugar, incluindo entre os manifestantes e as forças da ordem. Yasin Akgül é um dos melhores representantes disso, e o seu valor profissional é reconhecido em todo o mundo", acrescentou.
Os protestos prosseguiram hoje um pouco por todo o país, onde mais de 1.400 pessoas foram detidas desde o início, há seis dias, de uma revolta generalizada desencadeada pela detenção de Imamoglu, o principal rival do presidente, Recep Tayyip Erdogan, às eleições presidenciais de 2028.
As autoridades estão a enfrentar protestos sem precedentes desde o movimento Gezi, que teve início na Praça Taksim, em Istambul, em 2013.
Na terça-feira, um tribunal de Istambul ordenou a detenção provisória de sete jornalistas turcos, incluindo um fotógrafo da AFP, sob a acusação de participarem em concentrações ilegais.
"Há 10 anos que Yasin Akgül cobre todos os aspetos da política turca para a AFP. Entre eles, os comícios eleitorais do Presidente Recep Tayyip Erdogan", refere a carta de Fabrice Fries. O próprio fotógrafo argumentou, sob custódia policial, que se limitou a cobrir a manifestação.
A organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras (RSF) condenou a "decisão escandalosa", que considerou refletir "a grave situação que se vive na Turquia".
"É a primeira vez que um jornalista claramente identificado como tal, no exercício das suas funções, é mandado para a prisão com base nesta lei contra ajuntamentos e manifestações. Esta decisão escandalosa reflete uma situação muito grave na Turquia", declarou à AFP Erol Onderoglu, representante da ONG Repórteres Sem Fronteiras na Turquia.
Um juiz turco ordenou hoje a prisão preventiva de Akgul, acusado pelas autoridades de participar numa manifestação ilegal, informou o advogado à agência de notícias francesa.
O jornalista, cujo advogado anunciou a intenção de recorrer da decisão, insistiu durante a audiência que estava apenas a cobrir a manifestação de apoio a Imamoglu.
Akgul foi detido na madrugada de segunda-feira em casa, juntamente com outros nove jornalistas em Istambul e Izmir (oeste), a terceira maior cidade do país.
Mais tarde, foi libertado, juntamente com os restantes sete e, depois, novamente detido.
Um procurador de Istambul pediu hoje a detenção de sete deles, segundo um dos seus advogados.
O presidente da câmara de Istambul foi detido na quarta-feira passada sob a acusação de corrupção e ligações terroristas, tendo ficado em prisão preventiva no dia anterior. Na véspera, a Universidade de Istambul anulou o seu diploma universitário, uma condição para a sua candidatura presidencial.
A tensão política na Turquia continua a aumentar depois de Erdogan, que está no poder há mais de duas décadas, ter avisado que não iria tolerar "ataques de grupos marginais e 'hooligans' urbanos".
O líder islamita acusou os manifestantes de atacarem polícias, destruírem mobiliário urbano e "transformarem o pátio das mesquitas em tabernas".
"Os líderes dos principais partidos da oposição demonstraram uma enorme irresponsabilidade", afirmou o Presidente turco.
Recep Tayyip Erdogan é presidente da Turquia desde 28 de agosto de 2014. Anteriormente, ocupou o cargo de primeiro-ministro do país entre 14 de março de 2003 e 2014, tendo sido também presidente da câmara de Istambul de 1994 a 1998.
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