Peritos pedem moratória de dez a 15 anos para mineração em mar profundo

Um grupo de especialistas mandatado pelo Presidente francês recomenda uma moratória de dez a 15 anos para a exploração dos fundos marinhos, alertando que a incerteza sobre a mineração do mar profundo pode pôr em risco o planeta.

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© Lokman Ilhan/Anadolu via Getty Images

Lusa
30/03/2025 21:24 ‧ há 2 dias por Lusa

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"Não é por ser um ecossistema remoto que [o fundo do oceano] não tem relação com o resto da Terra. Por isso concluímos por um princípio de precaução e recomendamos uma moratória de 10 a 15 anos como a única maneira de posteriormente tomar decisões informadas com base no conhecimento científico", disse hoje o coordenador do grupo de trabalho.

 

Bruno David, ex-presidente do Museu Nacional de História Natural em França, apresentava as conclusões do trabalho que coordenou, a pedido do Presidente Emmanuel Macron, durante a iniciativa SOS Oceano, a decorrer em Paris até segunda-feira.

A comissão científica, co-coordenada pelo ex-ministro português Ricardo Serrão Santos, incluiu 18 membros de 15 países, de áreas científicas como história natural, geologia ou ciências naturais, mas também das ciências humanas.

Ao longo de oito meses, o grupo estudou o potencial da exploração dos fundos marinhos tendo em conta a necessidade de recorrer à extração mineral para promover a transição energética, como forma de combater as alterações climáticas.

"Estamos a tentar resolver um problema que conhecemos bem, as alterações climáticas, mas talvez estejamos a saltar para outro problema, que é a exploração do fundo do mar, (...) e talvez o segundo problema possa ser pior do que o primeiro", disse Bruno David perante dezenas de personalidades ligadas ao oceano, incluindo cientistas, decisores políticos e ambientalistas.

A Comissão analisou questões económicas, relacionadas com a biodiversidade, com os equilíbrios bioquímicos do planeta, questões sociológicas, relacionadas com a lei internacional e com a redistribuição equitativa de benefícios.

"Todas essas questões têm de ser cuidadosamente consideradas no contexto da exploração dos recursos do mar profundo, porque até agora só temos exploração científica e não exploração económica", afirmou.

A conclusão dos peritos é que "as incertezas sobre os potenciais efeitos colaterais da mineração em águas profundas podem levar-nos a territórios desconhecidos", pelo que deve aplicar-se o princípio da precaução.

"Não é porque o mar profundo está longe de nós que não tem consequências sobre nós", afirmou Bruno David, sublinhando que "a ciência é que deve guiar as escolhas, e não a pressa e a urgência".

"O lucro imediato é sem dúvida importante, mas lançar ações sem considerar todas as consequências pode revelar-se desastroso", acrescentou.

Bruno David apelou por isso à humildade de reconhecer que o ser humano não sabe tudo e a humanidade é muito pequena, quando comparada com o oceano, que evoluiu ao longo de centenas de milhões de anos.

"A humanidade deve proteger e preservar o oceano profundo pelo seu valor intrínseco, só isso", concluiu.

Organizado pela França e pela Fundação Oceano Azul, com a colaboração da Bloomberg Philantropies, o SOS Ocean pretende lançar a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, prevista para junho em Nice, e responde a um apelo do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que no verão passado, em Tonga, lançou um 'SOS' para os oceanos.

Leia Também: Vida marinha pode levar décadas a recuperar de mineração em mar profundo

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