Paralisação de transportadores em Maputo lembra "calvário" durante manifestações

Dezenas de transportadores paralisaram hoje atividades protestando contra a cobrança, na portagem de Maputo, de dívidas acumuladas nos últimos meses de paralisações, levando à memória dos munícipes o "calvário" de longos percursos feitos a pé durante as manifestações pós-eleitorais.

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Lusa
24/04/2025 14:53 ‧ há 3 horas por Lusa

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Moçambique

"Esta paralisação de chapas [furgões de transporte de passageiros] lembra-me o nosso calvário durante as manifestações (...) Eu saía de Costa de Sol [bairro costeiro na cidade de Maputo] até à Matola 700 a pé [um percurso de quase 30 quilómetros]", lembra, em declarações à Lusa, Cristina Tembe, uma funcionária auxiliar de um hospital em Maputo que hoje foi obrigada a passar pela portagem a pé devido à falta de transporte.

 

A manifestação dos transportadores, que começou pelas 07:00 (menos uma hora em Lisboa) na Estrada Nacional Número 4, afetou, sobretudo, a ligação entre as cidades de Maputo e Matola, numa distância de quase 12 quilómetros, obrigando dezenas de pessoas a fazerem o percurso a pé.

"A minha esperança agora é caminhar e apanhar um transporte lá para a frente. Caso não consiga, vou ter de caminhar por pelo menos 30 minutos", explicou à Lusa Xavier Massingue, outro munícipe, momentos após atravessar a portagem de Maputo.

Durante a paralisação, alguns munícipe recorreram a rotas alternativas para viajar ou até mesmo a veículos de caixa aberta privados, popularmente conhecidos por 'My Love', dada a proximidade física com que os passageiros viajam na caixa de carga de mercadorias e a necessidade de, por vezes, se abraçarem para não caírem à estrada.

A Unidade de Intervenção Rápida (UIR) foi destacada ao local para evitar que os transportadores bloqueassem a via (EN4), como já fizeram várias vezes em outras ocasiões nas manifestações que marcaram o país nos últimos meses.

"Há uma coisa muito triste que está a acontecer no nosso país, em cada coisa que acontece, a primeira pessoa que chega lá é a polícia. Por vezes, não é a polícia com quem nós queremos falar. Só agora, ali na Casa Branca, a polícia usou gás lacrimogéneo para nos dispersar, mas nós não queremos confusão", queixa-se à Lusa o motorista "Samo-G", a escassos metros de duas viaturas da polícia com contingentes fortemente armados.

Os transportadores contestam a cobrança de dívidas acumuladas referentes aos últimos meses, período marcado por protestos pós-eleitorais e em que o pagamento de portagens esteve suspenso, após uma série de vandalizações.

"Nós não podemos carregar a culpa de outras. Não só os chapeiros [termo usado para designar furgões de transporte de passageiros], o próprio Estado e a própria polícia passavam por ali, porquê que só nós é que temos multas", questiona à Lusa Joaquim Paulo, outro transportador.

A portagem de Maputo está sob responsabilidade da sul-africana Trans African Concessions (TRAC), concessionária da estrada N4, que liga Maputo à fronteira de Ressano Garcia.

Esta não é a primeira vez que a retoma de cobranças de portagem gera confusão no troço entre Maputo e Matola. Em 23 de janeiro, a TRAC retomou a cobrança de portagens, causando igualmente revolta popular.

A retoma causou também o bloqueio por manifestantes, em 29 de janeiro, dos acessos da N4 a Maputo, com protestos que levaram à vandalização de parte das instalações da TRAC, junto às portagens de Maputo, incluindo a destruição de duas viaturas.

Moçambique viveu, desde outubro, um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo, já empossado Presidente.

Desde 21 outubro, o início destes protestos, quase 400 pessoas morreram numa serie de confrontos entre manifestantes e a polícia, de acordo com a Plataforma Decide, uma organização não-governamental moçambicana que acompanha os processos eleitorais.

O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.

Em 23 de março, Mondlane e Chapo encontraram-se pela primeira vez e foi assumido o compromisso de acabar com a violência pós-eleitoral no país, embora, atualmente, críticas e acusações mútuas continuem nos posicionamentos públicos dos dois políticos.

"Nós, agora, só queremos paz. Queremos paz e transporte para sair do serviço para casa e de casa para o serviço. É o que pedimos aos nossos dirigentes e mais nada", conclui a moçambicana Cristina Tembe.

Leia Também: Polícia moçambicana impede marcha contra "perseguição e baleamentos"

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