Lula em Moscovo sinaliza aproximação à Rússia mas não rutura com Ocidente

A participação de Lula da Silva na celebração dos 80 anos da vitória na Segunda Guerra Mundial, em Moscovo, sinaliza uma aproximação com a Rússia, mas não indica que o Brasil romperá laços com o Ocidente, disseram analistas à Lusa.

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Lusa
07/05/2025 07:47 ‧ ontem por Lusa

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O Presidente brasileiro estará em Moscovo entre quinta-feira e sábado a convite do homólogo russo, Vladimir Putin, e será um dos poucos chefes de Estado presentes nas celebrações dos 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazi, comemorada em 09 de maio. Durante a visita, está prevista uma reunião bilateral entre os dois chefes de Estado.

 

Antes mesmo de acontecer, a viagem de Lula da Silva a Moscovo provocou críticas por parte da Ucrânia, que está em guerra desde a invasão russa ao seu território, em 2022.

O representante permanente do Governo ucraniano na ONU, Andrey Melnik, considerou que o Brasil estaria "gravitando em direção à Rússia" e "distanciando-se gradualmente do mundo ocidental", de acordo com a agência de notícias RBC-Ucrânia.

Melnik também declarou que o Governo brasileiro não tem interesse em desenvolver relações com a Ucrânia, demonstrando, em vez disso, uma postura pró-Rússia.

Angelo Segrillo, professor de História da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Rússia, disse à Lusa que concorda com Melnik no que diz respeito à avaliação de que o Brasil se está a aproximar muito da Rússia.

"Lula da Silva, apesar do discurso de que está sendo equidistante entre as duas partes [Rússia e Ucrânia], claramente está dando um peso para a Rússia, um pouco pelas posições políticas dele, mas também muito pela questão dos BRICS. Ele não quer se alienar dos BRICS. Então, nesse ponto sim", disse o especialista.

"Agora, no ponto que ele fala que o Brasil está se afastando do Ocidente, não necessariamente, porque Lula da Silva não quer se alienar dos Estados Unidos, por exemplo, ele quer ser simplesmente independente, o que às vezes cria conflito", completou.

Já Leonardo Trevisan, professor de economia e relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), lembrou que uma visita de Lula da Silva à Rússia já havia sido adiada devido a um acidente doméstico e não compareceu na cimeira dos BRICS (grupo de países emergentes fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul), em Kazan, no ano passado.

Sobre a possibilidade de o Brasil estar a afastar-se do Ocidente à medida que se torna mais próximo da Rússia e da China, parceiros do país no BRICS, Trevisan avaliou que não há sinais de que isto está a acontecer e considerou que é preciso entender a distância que há entre as palavras e a ação real.

"O Brasil tem uma fala de, às vezes, aparecer como um intermediário, como um parceiro mais efetivo até mesmo da Rússia em posições chinesas. Porém, na hora do voto real, em todas as posições no cenário internacional, especialmente nos votos na ONU, o Brasil tem uma posição de moderação", disse.

O especialista pontuou, no entanto, que a viagem de Lula da Silva a Moscovo é sensível neste momento porque pode ter alguma conotação negativa em relação à Europa Ocidental, que, visivelmente, tem preocupações com o avanço russo na Ucrânia.

"Isso de alguma forma preocupa os europeus porque eles estão frente a frente com uma situação de facto. O avanço sobre a Ucrânia é um avanço que hoje é irreversível. Putin, de facto, rompeu as regras internacionais e sairá, na melhor das situações, com a Crimeia consolidada e com aquelas quatro províncias em processo de consolidação", apontou.

"Isso preocupa o todo da Europa, porque a Europa sabe perfeitamente que esse apetite russo por reconstruir uma zona de segurança em torno das suas fronteiras é real. Putin não esconde isso", acrescentou.

Tevisan concluiu lembrando que pode ser preocupante para o contexto europeu um sinal de aval do Presidente brasileiro a Putin, tendo em conta que, neste momento, o Brasil procura uma aproximação com a Europa por causa do acordo comercial negociado entre o Mercosul e a União Europeia.

Leia Também: Ministro das Finanças diz que Brasil tem condições para crescer 3% ao ano

 

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