"Este é um pedido legítimo e convido a Comissão Europeia a analisá-lo", uma vez que a ajuda humanitária não chega a Gaza há mais de dois meses, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês.
Jean-Noël Barrot lembrou que "os Países Baixos pediram à Comissão Europeia que analisasse o cumprimento, pelo Governo israelita, do artigo 2.º deste acordo de associação com Israel", que constitui a base das relações comerciais entre a União Europeia e Israel.
Segundo sublinhou, em declarações à imprensa francesa, as relações entre a UE e Israel "assentam no respeito" pelos direitos humanos e pelos princípios democráticos.
Sem defender concretamente uma revisão do acordo, o ministro francês admitiu que a questão deve ser analisada, sublinhando também a situação humanitária catastrófica em Gaza.
"Acredito que temos de colocar a realidade em palavras. A realidade é que os palestinianos em Gaza estão a morrer de fome, têm sede, carecem de tudo, e a Faixa de Gaza está agora à beira do caos e do colapso devido à fome", disse.
"Ouvimos vozes, incluindo na comunidade judaica, comovidas com esta atitude incompreensível do Governo israelita", referiu, acrescentando que "é falando abertamente que se pode tentar influenciar a posição dos israelitas".
Na quarta-feira passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, Caspar Veldkamp, ??enviou uma carta à chefe da diplomacia europeia a pedir uma revisão do Acordo de Associação entre a União Europeia e Israel, apontando para o artigo 2.º do documento.
"Gostaria de solicitar uma revisão do cumprimento do artigo 2.º [sobre o respeito pelo direito internacional humanitário] por parte de Israel o mais rapidamente possível", escreveu o ministro holandês, citado pela agência de notícias francesa AFP.
Caspar Veldkamp explicou, na carta à Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, que defende dever ser analisado se o atual bloqueio israelita a Gaza viola o acordo de associação entre as duas partes, especificamente aquele artigo.
Israel bloqueou, em março, o acesso de ajuda humanitária a Gaza para impedir o Hamas de aceder ao material que entra na Faixa, onde ainda estão várias dezenas de reféns israelitas levados pelos islamitas nos ataques de 07 de outubro de 2023.
Na segunda-feira passada, Telavive aprovou um plano para retomar o acesso de ajuda humanitária, mas que, de acordo com a imprensa nacional, teve a oposição de alguns ministros e das agências da ONU e organizações não-governamentais (ONG) que trabalham na Faixa de Gaza, alegando que "viola os princípios humanitários fundamentais" e deixa muita gente sem ajuda.
Na sua carta, o ministro holandês também defende que o Hamas deve libertar imediatamente todos os reféns israelitas e que não deve ter lugar em nenhuma futura administração da Faixa de Gaza.
O pedido apresentado constitui, nas palavras de Caspar Veldkamp "um forte sinal político para Israel e para os outros países da UE".
O Acordo de Associação UE-Israel foi concluído em 2000 para melhorar a cooperação política e económica.
Veldkamp declarou que o seu país não apoiará mais nenhuma extensão deste plano e de outras colaborações até que a investigação que solicitou sobre o cumprimento dos acordos sobre os direitos humanos e os princípios democráticos esteja concluída.
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