"Acho que se recordam quando fomos abandonados pelo mundo financeiro por muitas razões, mas a vossa ação, a ação da diplomacia que representam, foi fantástica para nós devolvermos a confiança junto desses parceiros", declarou o antigo chefe do Estado de Moçambique, ao receber em audiência a Associação dos Diplomatas de Moçambique (Adimo), que celebra este ano 50 anos da diplomacia moçambicana, após a independência, em 25 de junho de 1975.
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estão entre os vários parceiros internacionais que suspenderam, em 2016, a ajuda financeira direta ao Orçamento de Estado moçambicano, tendo os dois apostado em ajudas financeiras pontuais no contexto de catástrofes específicas e situações de emergência, como a pandemia de covid-19, os ciclones Kenneth e Idai, em 2019, ou a crise humanitária provocada pela violência armada em Cabo Delgado.
Os parceiros internacionais suspenderam a ajuda na sequência do escândalo das dívidas ocultas, que envolveu vários governantes do executivo liderado por Armando Guebuza, incluindo o antigo Presidente de Moçambique Filipe Nyusi, na altura ministro da Defesa, a área em que operavam as empresas públicas que contratualizaram esses financiamentos.
As instituições referenciadas retomaram as ajudas em 2022, no segundo mandato de Filipe Nyusi enquanto Presidente de Moçambique.
Em declarações aos jornalistas no final do encontro com a Adimo, Filipe Nyusi realçou que a diplomacia moçambicana conseguiu "manter" a confiança e criou "crédito" junto das instituições financeiras.
"Fizemos muito esforço e devolvemos o Banco Mundial, o FMI e alguns parceiros da comunidade internacional. Mesmo a questão de conseguirmos a primeira plataforma de gás, esse que já está a dar qualquer coisa (...) pela diplomacia conseguimos convencer, porque para aquela plataforma vir aqui (...) era preciso ir ao Japão, Coreia, Holanda, discutir [com] os compradores do gás, nada podia arrancar sem negócio e essa diplomacia foi conduzida pela casa da diplomacia", acrescentou.
O ex-Presidente moçambicano lembrou aos diplomatas que o país é rico em diversos recursos e pediu empenho de todos para promover as suas potencialidades.
"Vender não no sentido errado, mas promover, fazer 'marketing', essa é que é a grande tarefa (...) nós temos a terra, a nossa riqueza está na terra, no solo, e agora, mais que nunca, está no mar. Portanto, o mar tem que ser protegido, defendido e reconhecido", concluiu Nyusi.
Filipe Nyusi cumpriu dois mandatos como Presidente moçambicano (2015-2024) tendo-lhe sucedido no cargo Daniel Chapo, que venceu as nas eleições de 09 de outubro passado, igualmente apoiado pelo Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975).
O novo Governo recebeu em fevereiro "garantias" de instituições internacionais, como FMI, Banco Mundial e ONU, de ajuda financeira para projetos de desenvolvimento na agricultura, infraestruturas, saúde, educação e governação, segundo nota oficial.
O Banco Mundial tem mais de 40 projetos em funcionamento no país, num valor acima de sete mil milhões de dólares (mais de 6,6 mil milhões de euros), ao abrigo da parceria com o país, centrada nos pilares do crescimento sustentável, inclusivo e resiliente, e do fortalecimento do capital humano, nomeadamente nas áreas da educação, saúde e proteção social.
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