Ferreira - que vive nos arredores de Washington - garantiu à Lusa no sábado que esse seu sentimento é partilhado por outros moradores da capital, que começam a habituar-se às medidas de segurança que limitam uma plena deslocação pela cidade.
"Já estamos a ficar muito acostumados a ver gradeamentos, que é uma coisa que não existia antes. Por exemplo, não nos podemos aproximar normalmente da Casa Branca. Duas ruas antes já está tudo fechado", disse o luso-americano, que é candidato ao 8.º Distrito Congressional da Virgínia e conselheiro das comunidades portuguesas pelo círculo de Washington.
"Ver aqui as tropas, com os canhões, com os aviões... é uma coisa que este Governo está a tentar normalizar. E isto não é nada normal de se ver neste país, além dos dias em que há realmente emergências. Portanto, sim, estamos a ficar mais acostumado a ver as tropas como uma coisa normal. E nada disto é normal numa democracia", advogou.
O conselheiro acusou ainda Trump de usar o exército para fins políticos, dando como exemplo o que está a acontecer em Los Angeles (sudoeste), onde o Presidente destacou a Guarda Nacional para conter manifestações contra a política migratória, apesar da oposição das autoridades locais.
Enquanto Frank Ferreira falava com a Lusa no National Mall, no centro de Washington, a poucos metros decorria um grande desfile militar encomendado por Trump para comemorar os 250 anos do Exército.
O desfile coincidiu com o 79.º aniversário do próprio chefe de Estado, mas as maiores críticas foram para o custo do evento, estimado em até 45 milhões de dólares (39,4 milhões de euros).
"Estamos a usar e a gastar quase 50 milhões de dólares para o Presidente festejar os anos dele. É uma coisa que não cai muito bem a muitas pessoas, especialmente a mim", admitiu Ferreira.
"Trump gosta muito de usar o dinheiro do povo, em vez de usar o seu próprio dinheiro, para ter estas grandes festas. (...) Acho que podíamos usar este dinheiro para outros fins. Há pessoas aqui, mesmo nesta cidade, que estão a morrer de fome, que vivem na rua e não têm dinheiro sequer para o jantar", acrescentou.
O luso-americano criticou ainda o facto de Trump enaltecer publicamente os militares, enquanto, por outro lado, "está a cortar muitos dos programas para ajudar os veteranos".
O evento militar atraiu milhares de pessoas, vindas de vários estados do país, que rumaram a Washington. As estimativas apontavam para cerca de 200 mil visitantes, mas a afluência aparentava ter ficado aquém das expectativas.
No público viam-se pessoas vestidas com as cores da bandeira dos Estados Unidos ou a exibir 'slogans' e frases de apoio a Trump.
Tradicionalmente, os desfiles militares nos Estados Unidos eram realizados para assinalar o fim de uma guerra e dar as boas-vindas aos que lutaram. O último grande desfile militar em Washington DC foi em 1991 e marcou o fim da Guerra do Golfo.
Desde que anunciou a realização do desfile, Trump foi acusado de agir como os líderes autoritários com os quais o Presidente afirma ter afinidade, como Vladimir Putin, da Rússia, Xi Jinping, da China, e Kim Jong-un, da Coreia do Norte.
"Todos os outros países celebram as suas vitórias. Já era tempo de os Estados Unidos também celebrarem", declarou Trump, num breve discurso após o desfile.
O Presidente classificou ainda o Exército como "a maior, mais temida e mais corajosa força que já pisou a face da Terra".
O desfile foi apresentado num tom educativo e através de uma perspetiva histórica e terminou com uma grande sessão de fogo de artifício, que iluminou os céus da capital.
Tudo isto aconteceu enquanto milhares de pessoas em mais de 1.500 cidades do país saíram às ruas em protesto contra o Governo.
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