O homem que, em 2023, foi condenado por ter ameaçado matar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi detido por ter acedido de forma ilegal à base de dados da Segurança Social , da qual terá conseguido recolher a identificação e outros dados pessoais de centenas de agentes do Serviço de Informações e Segurança (SIS), do Serviço de Informações Estratégicas e Defesa (SIED), da Polícia Judiciária (PJ) e da Autoridade Tributária (AT).
A informação foi avançada esta quarta-feira pela revista Sábado, que deu conta de que os dados coincidiam com os encontrados numa pen-drive que, em novembro de 2023, foi apreendida num cofre no gabinete de trabalho de Vítor Escária, antigo chefe de gabinete do ex-primeiro-ministro António Costa.
O mesmo meio adiantou que Escária alegou desconhecer o conteúdo da pen-drive, que disse ter chegado ao Palácio de São Bento com o anterior chefe de gabinete.
Marco de Aragão terá obtido a informação quando era inspetor superior estagiário da Segurança Social, em 2019. Terá ainda pedido "500 mil euros em notas de 20 e 50 não numeradas" a várias instituições, sob ameaça de divulgar a identidade dos agentes.
Já esta quarta-feira, a Procuradoria-Geral da República confirmou que o Ministério Público abriu um inquérito por violação de segredo de Estado na sequência da apreensão da pen-drive. Entretanto, o advogado de António Costa disse hoje à Lusa que o ex-primeiro-ministro e atual presidente do Conselho Europeu desconhece "em absoluto do que se trata".
Recorde-se que, pouco mais de uma semana depois das buscas ligadas à Operação Influencer, Marco de Aragão foi condenado a internamento compulsivo numa unidade hospitalar, entre o mínimo de um mês e o máximo de três anos e quatro meses, pelos crimes de coação agravada na forma tentada e detenção de arma proibida.
Marco de Aragão, que foi considerado inimputável, foi ainda condenado ao pagamento de uma indemnização cível de 2.500 euros por danos não patrimoniais ao primo Valter Silva, a quem tentou incriminar na carta enviada a Marcelo Rebelo de Sousa, ao colocar o número da conta bancária do visado, para onde deveria ser realizada a transferência de um milhão de euros, além de uma bala.
A Operação Influencer levou às detenções de Vítor Escária, do advogado e consultor Diogo Lacerda Machado, dos administradores da empresa Start Campus Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, e do presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, no dia 7 de novembro de 2023. São ainda arguidos o ex-ministro das Infraestruturas, João Galamba, o ex-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado João Tiago Silveira e a Start Campus.
O processo foi, entretanto, separado em três inquéritos, relacionados com a construção de um centro de dados na zona industrial e logística de Sines pela sociedade Start Campus, a exploração de lítio em Montalegre e de Boticas (ambos distrito de Vila Real), e a produção de energia a partir de hidrogénio em Sines.
António Costa, que surgiu associado a este caso, foi alvo da abertura de um inquérito no Ministério Público junto do Supremo Tribunal de Justiça, situação que o levou a pedir a demissão do cargo de chefe do Governo. Com a sua saída e a consequente perda de foro especial para investigação, o processo relativo ao ex-governante desceu ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
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