Covid-19: Missão de Graças Freitas resistiu a críticas, ameaças e cancro

Críticas à forma como geria a resposta à covid-19, ameaças e um cancro foram alguns dos desafios que Graça Freitas enfrentou na pandemia, mas nada a fez desistir da sua missão enquanto diretora-geral da Saúde.

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Lusa
22/02/2025 09:24 ‧ há 8 horas por Lusa

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Graça Freitas

Cinco anos depois da deteção dos primeiros dois casos de covid-19 em Portugal, em 02 de março de 2020, Graça Freitas recordou, em entrevista à agência Lusa, como foi viver aquele período de incertezas, ao mesmo tempo que enfrentava um cancro da mama, e como se protegeu das duras críticas de que foi alvo.

 

Graça Freitas contou que familiares, amigos, e a equipa da Direção-Geral da Saúde criaram "uma barreira de proteção" para que não lesse as críticas, que começaram logo em janeiro de 2020, quando afirmou não existir "grande probabilidade" de o vírus, que tinha sido detetado no final de 2019 numa cidade chinesa, chegar a Portugal.

"Tinha a noção de que não podia levar com aquele embate tão doloroso, provavelmente, seria muito difícil. E, portanto, tive mecanismos de proteção", relatou.

Apesar de, por vezes, achar que as críticas eram "injustas", afastava rapidamente esse pensamento, pois a prioridade era o combate à pandemia.

"Também tinha esse lado pragmático, não podia estar a chorar de uma injustiça".

Embora legítimo, "aquele maldizer do dia-a-dia (...)causava algum desconforto", havendo dias em que era mais difícil de suportar.

Percebeu, contudo, a gravidade da situação quando, após uma das conferências de imprensa diárias sobre a covid-19, foi informada de que passaria a ter escolta policial, tal como a ministra da Saúde, Marta Temido.

Nunca questionou a razão da medida nem a comentou com a ministra: "Saí absolutamente calada e, enfim, de certa forma arrasada com o peso da medida", porque indicava que haveria "ameaças importantes" à sua segurança.

A ex-diretora-geral admitiu que sem essa proteção as coisas poderiam "não ter corrido bem".

Em relação às críticas sobre a gestão da pandemia, afirmou que fez "o melhor que sabia e podia" com os dados e o conhecimento disponíveis na altura.

"Se alguma vez falhei ou não disse exatamente o que era verdade, naquele momento estava convicta de que o era".

"Não foi perfeito. Isso tenho a certeza absoluta que não foi. Podia ter sido melhor, podia ter sido feito por outras pessoas com outro tipo de capacidades, mas foi o que foi e foi a minha realidade", declarou Graça Freitas, que lida com emergências de saúde pública desde 1997.

O período de incerteza da pandemia, com o número de mortos e infetados a multiplicarem-se, exigia um esforço imenso das equipas que trabalhavam dia e noite para acompanhar a evolução científica do novo coronavírus SARS-CoV-2 e delinear as medidas necessárias.

Esta exigência tornou-se um desafio para conciliar o descanso e o sono: "Para mim, foi doloroso. Senti que a idade já contava alguma coisa para o pouco descanso que tinha".

Simultaneamente, Graça Freitas lutava silenciosamente contra um cancro de mama, já numa fase "mais controlada", mas com dores "bastante intensas" devido ao tratamento.

A queda do cabelo era também um desafio, numa altura em que aparecia diariamente na televisão e os cabeleireiros estavam encerrados.

Contudo, tinha uma certeza: "Não podia abandonar nenhuma das lutas. Não podia deixar a medicação. Isso era impensável, era a minha cura à vida (...) e também, de certa forma, não pararia a missão que tinha", a não ser que lhe dissessem que já não era necessária.

Graça Freitas aposentou-se em agosto de 2023, ao fim de cinco anos à frente da DGS. Questionada se teria aceitado o cargo sabendo que iria enfrentar a pandemia, que causou cerca de 29.000 mortos em Portugal, disse não conseguir responder.

"Não pelo trabalho, porque o trabalho não me assusta, não pelo que eu acho que fiz bem, do ponto de vista técnico e científico, mas pela exposição, é uma pergunta que ainda hoje não sei responder", afirmou.

Sobre o que mudaria na gestão da pandemia, afirmou que "mudaria tudo", mas, principalmente, a forma de comunicar e reforçaria a equipa da DGS, que fez "verdadeiros milagres" com os recursos de que dispunha.

Também destacou a importância de reservar 15 minutos diários para refletir, o que não conseguiu fazer devido à intensidade e rapidez dos acontecimentos, sobretudo, nos picos da pandemia, com novas variantes e altas taxas de mortalidade, chegando a registar 300 mortes diárias.

Esta sucessão de acontecimentos fez com que Graça Freitas não tivesse "uma visão muito abrangente" do impacto do que estava a ocorrer "do lado lá do ecrã".

Só com o passar do tempo, e com o abrandamento da pandemia, em que começou a ter "mais tempo e liberdade", se apercebeu da importância da sua presença nas conferências de imprensa.

Recordou uma senhora que encontrou no IPO e que lhe agradeceu por ter sido "companhia" durante "87 almoços" em que esteve em confinamento imposto pela pandemia.

Leia Também: Medidas de resposta à Covid-19 custaram 16,5 mil milhões em três anos

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