Sismos nos Açores? "É fundamental que população saiba as medidas a tomar"

O Notícias ao Minuto esteve à conversa com a geóloga Rita Carmo, do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), sobre a mais recente atividade sísmica registada na região autónoma.

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© Hugo Moreira/Getty Images

Natacha Nunes Costa
19/03/2025 10:27 ‧ há 4 horas por Natacha Nunes Costa

País

Açores

Dois sismos registados, na semana passada, na ilha de São Miguel, nos Açores, deixaram o arquipélago em alerta.

 

Apesar de a região estar habituada a tremores de terra, a 'dupla' atingiu valores altos e menos comuns. O primeiro, no dia 11 de março, sentido ao acordar, aconteceu às 7h14, horas locais, e teve uma magnitude de 5,3 na escala de Richter. O segundo, registado ao final do dia 12 de março, chegou aos 4,2.

Não foram sinalizados danos materiais, nem feridos em nenhum deles. Porém, muitos foram os que sentiram "e bem" os abalos e têm receio do que possa advir da atividade sísmica, que acabou por ser sentida também em Santa Maria e Terceira.

Ao Notícias ao Minuto a geóloga Rita Carmo, do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), explicou que "os sismos que se registaram, nos dias 11 e 12 de março, no mar, a su-sudeste da ilha de S. Miguel, estão associados a uma zona sismogénica conhecida, designada por Fossa da Povoação, e onde a sismicidade é recorrente. Estes sismos resultam da acumulação de tensões em falhas tectónicas".

De acordo com a especialista, "a atividade sísmica na região dos Açores decorre do seu enquadramento geodinâmico".

"O arquipélago dos Açores localiza-se na zona de contacto das placas litosféricas Norte-Americana, Eurasiática e Africana, conhecida por Junção Tripla dos Açores. Este enquadramento geodinâmico reflete-se em importantes sistemas de fraturas, tais como a Crista Média Atlântica e a Zona de Fratura Açores-Gibraltar, que correspondem às fronteiras entre aquelas placas. Nos limites entre placas tectónicas, como aquelas fronteiras (mas não só), devido aos movimentos relativos das placas, geram-se sismos", lembrou.

Além dos dois terramotos sentidos pela população - o primeiro com intensidade V/VI e o segundo IV/V (escala de Mercalli Modificada)  foram ainda registadas várias réplicas, o que é inerente a um tremor maior.

"Quando há movimentação numa determinada falha tectónica, é natural que se gerem tensões em estruturas tectónicas adjacentes, podendo gerar novos sismos, até se atingir uma nova estabilidade (durante algum tempo). Ora, a sequência de sismos que se iniciou no passado dia 11 de março, às 7h14 (hora local), gerou-se no seguimento de uma rotura numa falha do setor ocidental da Zona de Fratura Açores-Gibraltar, que atravessa o arquipélago na zona dos grupos Central e Oriental. Esta sequência iniciou-se com um sismo principal, de magnitude 5,2, localizado a cerca de 25 km a S do concelho da Povoação (São Miguel), e que foi sentido com intensidade máxima V/VI naquele concelho (o mais próximo da área epicentral). A este evento seguiram-se dezenas de réplicas, algumas das quais sentidas, tendo a mais energética (até ao momento) atingido magnitude 4,2, no dia 12 de março às 17h13 (hora local), e sido sentida com intensidade máxima IV/V no mesmo concelho", clarificou.

Especialista deixa alerta

A ocorrência de sismos nos Açores é, portanto, algo já intrínseco na região. Na sua maioria são microssismos, "pelo facto de terem magnitude inferior a 3", mas, e como nos demonstra a história do arquipélago, pontualmente ocorrem sismos com magnitude mais elevada.

"Se estes eventos se localizarem próximo de zonas habitadas podem ter consequências mais gravosas. Portanto, é fundamental que, vivendo numa zona sismicamente ativa, a população açoriana tenha bem presente as principais medidas a tomar antes, durante e depois de um sismo", alerta a especialista em vulcanologia.

CIVISA e IVAR mantêm-se atentos a Terceira e São Jorge

Sobre a crise sísmica que viveu na Terceira, o ano passado, Rita Carmo notou que, "embora esta esteja, atualmente, numa fase mais calma, a atividade sísmica nesta ilha, mais concretamente no perímetro do Vulcão de Santa Bárbara, continua claramente acima do normal".

"Esta sismicidade, essencialmente constituída por microssismos, tem-se caracterizado por um padrão em que alternam períodos mais calmos com outros de maior libertação de energia. Portanto, a sismicidade e a deformação mantêm-se, pelo que o Gabinete de Crise do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) e do Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos (IVAR) da Universidade dos Açores mantêm o nível de Alerta Vulcânico no Vulcão de Santa Bárbara em V2, e o nível de Alerta Vulcânico V1 no Sistema Vulcânico Fissural Oeste da Terceira", esclareceu.

Algo semelhante acontece ainda em São Jorge, onde a crise sísmica obrigou, em março de 2022, o Governo Regional dos Açores a decretar estado de alerta e a retirar cerca de 2.500 pessoas da ilha, que tem, segundo os Censos de 2021, 8.437 habitantes. Nesta ilha, "a sismicidade encontra-se em valores mais baixos do que os registados em 2022-2023, mas ainda continua acima do normal. Por isso o Gabinete de Crise mantém o nível de Alerta Vulcânico em V1".

Site do CIVISA tem 15 anos e está "ultrapassado"

Sempre que ocorre um sismo de maior intensidade nos Açores, os habitantes socorrem-se do site do CIVISA para ter mais informações sobre o mesmo. O problema é que, com a quantidade de acessos, este acaba por falhar, o que deixa a população preocupada.

Nos terramotos da semana passada, o problema voltou a acontecer, o que gerou várias críticas nas redes sociais.

Questionada sobre este assunto, Rita Carmo revelou ao Notícias ao Minuto que "o website do IVAR/CIVISA foi concebido há cerca de 15 anos, com uma tecnologia que hoje já está ultrapassada" e que "em situações em que há muitos acessos, como a ocorrência de um sismo amplamente sentido, o website não tem capacidade para dar resposta a tantas solicitações".

E este problema manter-se-á enquanto a questão não for resolvida. "Não é uma situação recente e, por não termos capacidade financeira de a resolver ou de candidatar-nos diretamente a fundos de financiamento, já foi colocada ao Governo Regional dos Açores", garantiu a especialista, adiantando que "há cerca de um ano, juntamente com o Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores, preparou-se uma candidatura a um programa de transição digital".

Enquanto aguardam pelo desenvolvimento desse projeto, o CIVISA procura uma solução provisória, em colaboração com o IVAR, "de modo a beneficiar de uma plataforma na web para a difusão de informação".

Leia Também: Depressão Martinho coloca grupos Central e Oriental dos Açores sob aviso

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