"Queremos igualdade, não caridade". Pessoas com deficiência saem à rua

Dezenas de pessoas marcharam hoje em Lisboa para reivindicar direitos para as pessoas com deficiência, que saíram à rua para lutar por uma vida independente com acessibilidade nos transportes públicos e habitação adaptada, exigindo "igualdade e não caridade".

Notícia

© Lusa

Lusa
03/05/2025 19:20 ‧ ontem por Lusa

País

Lisboa

Para assinalar o Dia Europeu da Vida Independente, celebrado em 05 de maio, foram agendadas concentrações em oito cidades: em Lisboa, o ponto de encontro foi a Avenida da Liberdade, junto ao teatro Tivoli, onde se começaram a juntar pessoas pelas 15:00.

 

Diogo Martins, que faz parte da Comissão Organizadora da Marcha pela Vida Independente (COMVI), explicou à agência Lusa que o objetivo desta ação foi a de "chamar a atenção para um conjunto de questões que continuam por resolver no que diz respeito aos direitos das pessoas com deficiência, concretamente em Portugal".

"E há um segundo objetivo, que o de também conseguir agregar ainda mais pessoas com deficiência para esta causa, ou seja, conseguirmos que as pessoas também ganhem uma certa consciência", salientou, apontando que é preciso "diferentes formas de chegar ao poder, a quem toma decisões".

Além deste propósito, existem ainda reivindicações específicas para cada região. Na área metropolitana de Lisboa passam por "melhorar a rede de transportes em termos de acessibilidade", que enfrenta problemas como "falta de manutenção de vários equipamentos, falta de formação de vários profissionais e avarias constantes em alguns transportes".

As pessoas com deficiência sofrem também com a falta de habitação acessível, que as afeta de forma muito particular, já que as casas adaptadas e acessíveis são das mais caras do mercado.

Paula Sequeira, que segurou um cartaz onde se lia "habitação", também destacou à Lusa este como um dos grandes desafios que as pessoas com deficiência enfrentam, nomeadamente tendo em conta também outras dificuldades no acesso ao emprego.

"Ainda não é muito usual darem-nos trabalho pelas nossas capacidades, porque muitos de nós temos cursos universitários e não nos dão oportunidade de trabalho porque só olham para a nossa incapacidade", lamentou.

Numa concentração afetada pela chuva, era possível também ver bandeiras da Associação Portuguesa de Deficientes (APD), uma das várias organizações que aderiu a esta marcha.

"Aderiram a esta marcha 16 organizações na área da deficiência e têm o apoio de à volta de 40 coletivos e organizações de defesa dos direitos humanos", destacou Jorge Falcato, ex-deputado do Bloco de Esquerda e membro da COMVI, à Lusa.

O responsável assinalou que esta é "uma luta que não é só das pessoas com deficiência, é uma luta por direitos humanos, que muitas vezes as pessoas com deficiência não têm acesso a esses direitos".

Esta marcha focou-se na vida independente, sendo que já "houve um projeto piloto que funcionou durante cinco anos", recordou, mas que "já acabou há cerca de um ano e aquilo que deveria ser uma medida de política para toda a gente ter assistência pessoal, de há um ano para cá, está tudo parado, não abriram mais vagas e há milhares de pessoas à espera para terem assistência pessoal".

No que diz respeito a este projeto, à volta de mil pessoas estavam abrangidas e, para além dessas, "há pelo menos 3.000 pessoas que estão à espera e este Governo não fez nada para tornar isto uma medida realmente que seja efetiva", atirou.

"A vida independente, para ser possível, é preciso ter o direito à habitação, é preciso ter acesso à habitação, aos transportes, à educação inclusiva, ao trabalho, mas há uma ferramenta que é fundamental, que é a assistência pessoal", defendeu.

Esta concentração juntou também pessoas sem deficiência, como foi o caso de Ana Santos, que se tornou assistente pessoal há três anos e meio, largando o trabalho enquanto assistente operacional em escolas por "amor a ajudar os outros".

"Temos carreira e não temos carreira", diz, apontando que tem vindo a participar em mais manifestações e marchas porque esta profissão não está prevista e apelando ao próximo Governo a olhar para este tema.

Ana Santos, que cuida agora de um casal em que ambos têm uma deficiência, salientou ainda que "cada qual tem a sua limitação e há diariamente desafios a ultrapassar".

Gisela Valente, que segurou uma bandeira da APD, também destacou que "existem vários tipos de deficiência, desde as deficiências cognitivas, às físicas, às sensoriais e a população em geral não está desperta, cada vez começa a despertar um pouco mais, mas também a nível governativo é necessário que haja políticas de inclusão".

"Podemos olhar, por exemplo, aqui, para estas ruas de Lisboa e se muitas pessoas vêm numa cadeira de rodas, neste caso, não conseguem vir sozinhas e serem autónomas e isto não é justo, não é uma vida justa nem digna e as pessoas têm esse direito, porque são trabalhadoras", afirmou, reiterando: "Não somos coitadinhos, não queremos sê-lo".

A responsável chamou ainda a atenção para as dificuldades que enfrentam nos transportes públicos, apontando que as pessoas "às vezes até ficam à espera nas paragens, porque a rampa do autocarro ficou presa, porque nos metros ou nos comboios os elevadores estão avariados, porque foram indevidamente utilizados ou outra questão qualquer e as pessoas não conseguem aceder".

Gisela Valente disse ter notado mais interesse no tema, até porque "há pessoas que nascem com alguma deficiência, mas há outras que as adquirem ao longo da vida" e todos precisam de um "país justo e de uma vida justa e independente".

"Nós estamos começados, mas não estamos acabados", reiterou, recordando uma frase que a avó lhe dizia.

Num dia de vários recados para o novo Governo, após as eleições de 18 de maio, também passaram por esta manifestação políticos como António Filipe, deputado do PCP, Mariana Mortágua, coordenadora do BE, e Rui Tavares, líder do Livre.

Após a concentração na Avenida da República, o grupo desceu até ao Rossio, onde foi lido o manifesto que pode ser consultado online e já foi subscrito por cerca de 30 organizações e 150 pessoas em nome individual.

Dinamizada pela primeira vez em Portugal em 2018, a Marcha pela Vida Independente leva as pessoas com deficiência a tornar visível a sua realidade, os seus corpos e a sua luta.

Leia Também: Livre acusa Governo de "grande frieza" para com pessoas com deficiência

Partilhe a notícia

Escolha do ocnsumidor 2025

Descarregue a nossa App gratuita

Nono ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas