"Desconfiam do André Ventura, têm dúvidas, será que vai ser exigente demais, autoritário, mexer no país demasiado nas suas fundações. O que têm a perder? Pedimos uma oportunidade e depois nos julgarão como julgaram os outros durante 50 anos", afirmou.
André Ventura, que discursava na abertura do 19.º Conselho Nacional do Chega, realizado num hotel de Beja, realçou que o partido quer uma oportunidade para "fazer uma limpeza" no país, lamentando que nunca a tenha podido fazer.
"Mas ainda não nos deram a oportunidade de tomar as decisões de transformação do país, na economia, na saúde, no combate à corrupção, na justiça e garantir que não vamos ter a bandalheira que temos tido no controle à imigração", sublinhou.
Perante os conselheiros nacionais do partido, o líder do Chega insistiu várias vezes no pedido de uma oportunidade para Governar, chegando a citar o político brasileiro Tiririca "Pior que está, não fica. É impossível".
"Há quem tenha dúvidas do meu espírito genuinamente democrata, mas vamos dizer às pessoas que não perdem, nem perderão. Pelo contrário, ganharão uma oportunidade histórica de termos esta transformação", reiterou.
Acusando o Governo PSD/CDS-PP de ter feito "zero de combate à corrupção", André Ventura prometeu que, se o partido que lidera ganhar as eleições, "no dia a seguir" à tomada de posse, "entra no parlamento o maior pacote anticorrupção da história" do país.
"No dia a seguir, vamos enfrentar o problema do enriquecimento ilícito dos políticos de frente, sem falsos moralismos, sem falsas modéstias", referiu, sustentando que "um político não pode chegar a Lisboa com 100 e sair de Lisboa com 3.000".
Num discurso de cerca de 30 minutos, o presidente do Chega lançou críticas ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, e à decisão de apresentar uma moção de confiança.
"A atitude de Montenegro não está a ser muito diferente da de muitos ditadores sul-americanos que conhecemos, que, perante problemas de justiça ou de integridade, atiram o país para a lama e para a confusão para fazer uma espécie de plebiscito nacional da sua integridade", argumentou.
Ventura defendeu que "um político pode e deve ter vida" e também deve ter "mais escrutínio do que todos os outros", atirando: "O que não pode é, para escapar ao controle das contas, distribuir o seu dinheiro por várias contas abaixo do limite legal, como José Sócrates fez e outros fizeram".
"E agora percebemos bem porque é que não queriam o Chega no Governo e não queriam o Chega como parceiro, porque, com todas estas irregularidades, ilegalidades e esta falta de ética, já tínhamos mandado este primeiro-ministro dar uma volta", disse.
Aludindo à recente polémica da empresa da família de Luís Montenegro e a outras, incluindo em relação ao secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, o líder do Chega encostou PS e PSD, lembrando que os dois partidos governaram alternadamente nos 50 anos de democracia.
"Substituíram-se os nomes, mudaram-se as perucas, mudaram-se as cadeiras, mas o circuito foi o mesmo. O da compra e venda foi o mesmo. O da troca de favores foi o mesmo. O do pega num e mete-o ali a ver se se cala é o mesmo. O da tentativa de comprar todos os setores do Estado, desde baixo até cima, não é diferente no PSD do que foi no PS", salientou.
Admitindo que "o Chega também tem casos", André Ventura assinalou que existe "uma grande diferença" entre o partido que lidera e os outros.
"Quando olhamos para trás na nossa bancada, nós já não temos lá, de facto, o Miguel Arruda", frisou, referindo ao deputado eleito pelo Chega acusado por furto de malas no aeroporto de Lisboa e que passou depois à condição de deputado independente.
E comparou com a bancada do PSD: "Ainda vemos lá o Miguel Albuquerque, ainda vemos o Pinto Moreira, parte do PSD, e ainda vemos toda a escória da corrupção ligada ao PSD nos seus quadros, nas suas distritais e no seu Governo", acrescentou.
[Notícia atualizada às 18h38]
Leia Também: Miranda Sarmento culpa Chega e PS por eleições. Pedro Nuno? "Um radical"