"Governar, decidir, é sempre passível de descontentamento e vossa excelência foge disso como o diabo da cruz, refugia-se na propaganda do 'outdoor'", afirmou o deputado municipal do PS Miguel Coelho, dirigindo-se ao presidente de câmara, Carlos Moedas (PSD), na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, no âmbito da apresentação do trabalho do executivo camarário entre fevereiro e março.
No seu discurso, o social-democrata Carlos Moedas, que governa Lisboa sem maioria absoluta, resumiu os dois últimos meses de atividade do município a "decidir e fazer", destacando a intervenção nas áreas da mobilidade, espaço público, habitação, segurança, comércio e cultura.
"Neste mandato, vamos continuar sempre a surpreender com a realização concreta para as pessoas, desde os problemas mais pequenos até à visão da cidade. Nunca, nunca, fazendo apenas a propaganda, que é aquilo que vimos muitas vezes na política, mas fazendo no concreto, que é aquilo que muitas vezes, muitas vezes, aqui dói tanto", declarou o autarca do PSD.
Para o socialista Miguel Coelho, também presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, "o presidente da câmara está em campanha para primeiro-ministro e está, aliás, com grande vantagem": "E não diga que não é não, porque é capaz de ser sim é sim".
Sobre a informação escrita do presidente da câmara relativamente à atividade do executivo municipal, o deputado do PS disse que faz lembrar "a loja dos 300, muita bugiganga, sem as coisas essenciais", criticando as "muitas omissões e silêncios ensurdecedores", assim como a governação de Carlos Moedas de "passar a culpa a outros", nomeadamente sobre a remoção de jacarandás na Av. 5 de Outubro, a solução para a Academia de Amadores de Música, a segurança da cidade, o plano de mobilidade e a habitação.
O socialista questionou ainda sobre a "vistoria política" da câmara às obras nos dois apartamentos da família do primeiro-ministro, Luís Montenegro (PSD), perguntando "se de futuro haverá um tratamento igual para todos", mas não obteve resposta.
Sobre a remoção de jacarandás na Av. 5 de Outubro, Carlos Moedas disse que viu chegar a política "ao seu nível pior, que é o da mentira", referindo que herdou o projeto da Operação Integrada de Entrecampos do anterior executivo, liderado pelo PS, e o mesmo tinha "um problema", que passava por decidir como evitar a retirada destas árvores, ressalvando que os socialistas votaram a favor da solução encontrada.
Relativamente à Academia de Amadores de Música, questão também levantada pelo PCP, o presidente da câmara reforçou que, depois do diferendo com a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior sobre o espaço inicialmente anunciado, foram procuradas outras soluções, primeiro no património municipal e depois junto do Governo.
"Encontrámos um prédio que a Academia gosta, que é na Avenida de Berna, esse prédio é do Estado", apontou Carlos Moedas, explicando que "a renda era cara demais", estando o valor a ser negociado, adiantando que a câmara está disponível para, "se a renda for muita alta, se o Estado não fizer o desconto", fazer uma permuta com a Estamo (empresa pública responsável pela gestão e valorização de imóveis públicos), em que o edifício fica para a câmara e, assim, pode fazer o desconto à Academia.
Depois de ser acusado pelo PS de "só se preocupar com os endinheirados" e de "desprezar" as instituições que contribuem para o reforço da coesão social, o autarca do PSD afirmou: "Durante estes três anos fiz muito, muito, muito mais pelos mais vulneráveis do que alguma vez fiz por algum outro grupo ou setor".
A resposta às pessoas em situação de sem-abrigo foi também um dos temas abordados, com o deputado independente dos Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre) Miguel Graça a acusar a liderança PSD/CDS-PP de ter falhado na contratação para a reconversão do Centro de Acolhimento do Beato, enquanto o eleito da IL Miguel Ferreira da Silva considerou que é "uma oportunidade de quebrar o ciclo de guetização" nesta zona de Lisboa.
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