Um estudo do observatório social para a Inteligência Artificial (IA), da Universidade Nova, apresentado hoje, aconselha as empresas a investir na formação contínua em IA e a antecipar o seu impacto para requalificar os jornalistas e outros profissionais.
Esta análise "mostra que ainda temos de dar grandes passos no que diz respeito à inteligência artificial. Acho que os indicadores revelam que o medo [associado] a esta tecnologia pode estar ligado ao facto de as empresas donas de comunicação social não estarem a fazer formações sobre a matéria", afirmou a jornalista da Agência Lusa Alexandra Luís, que falava num debate sobre o estudo da Universidade Nova.
Na iniciativa, que decorreu no Colégio Almada Negreiros, em Lisboa, a jornalista lembrou que, sempre que houve uma revolução tecnológica, o modo como os jornalistas trabalham mudou.
Contudo, ainda não é conhecido o impacto final desta nova tecnologia -- a IA -, em particular no jornalismo, um tema que defendeu carecer de debate e reflexão.
"As empresas deverão ter um papel importante na formação e ter um debate interno para que as pessoas possam expor as suas dúvidas", referiu.
No mesmo painel, Joana Ramalho da Universidade Europeia assinalou que os desafios e oportunidades associados à IA não são ainda, efetivamente conhecidos, uma vez que também sofrem mudanças ao longo do tempo.
Por outro lado, avisou que o estudo não permite ter um retrato da profissão, tendo em conta que contou com cerca de 74 respostas, quando existem mais de 5.200 jornalistas com carteira profissional.
Ainda assim, disse que as considerações reveladas são importantes para ter um mapeamento do setor.
Joana Ramalho defendeu ainda que, numa próxima fase, devem também ser consideradas as pessoas que trabalham com jornalistas e as que, não sendo jornalistas, produzem "conteúdo informativo".
Já Nelson Ribeiro da Universidade Católica Portuguesa destacou que o estudo permitiu concluir que mais de metade dos jornalistas não identifica nos seus textos quando utiliza a IA, mas, em simultâneo, a quase totalidade dos inquiridos referiu que é precisa uma ética para esta tecnologia.
"Isto é fruto de as redações terem muito pouco tempo ou nenhum para pararem para pensar sobre o que se está a fazer. Mais tarde ou mais cedo, isto poderá virar-se contra o próprio jornalismo", alertou o docente.
Criar diretrizes claras no uso da IA no jornalismo, fomentando a segurança e inovação, são outras recomendações do Observatório Social para a Inteligência Artificial e Dados Digitais, da Universidade Nova de Lisboa, que fez um inquérito em parceria com o Sindicato dos Jornalistas.
Nesse questionário, 59,5% dos inquiridos afirmam já ter ouvido falar da IA, mas não têm uma noção aprofundada do que é, contra os 4% que responderam que ter um conhecimento avançado, enquanto 36,5% admitem ter noções básicas da tecnologia.
Os jornalistas estão preocupados com a IA e mais de 70% admitem que o jornalismo pode ser ameaçado pelas tecnologias das grandes empresas tecnológicas.
Os dados indicam que 59,5% dos inquiridos já ouviu falar da IA, mas não tem uma noção aprofundada do que é, contra os 4% que responderam que ter um conhecimento avançado, enquanto 36,5% admitem ter noções básicas da tecnologia.
O relatório do Observatório Social para a Inteligência Artificial e Dados Digitais, da Universidade Nova de Lisboa, resulta de um questionário, distribuído pelo Sindicato dos Jornalistas aos seus associados, e foi respondido por 74 profissionais de informação, entre 02 de março e 17 de abril de 2024.
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