IA não será "fim do jornalismo", mas precisa de "políticas de literacia"

A utilização e o crescimento da Inteligência Artificial (IA) não deverá levar ao fim do jornalismo, mas também é preciso reforçar o investimento em literacia mediática, apontou um grupo de especialistas na apresentação de um estudo sobre a temática.

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Lusa
29/01/2025 13:32 ‧ ontem por Lusa

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Inteligência Artificial

"Não acho que a IA venha trazer o fim do jornalismo. O futuro do jornalismo só estará em causa se não existirem novas gerações que queiram ser jornalistas", afirmou o docente da Universidade Católica Nelson Ribeiro, num debate a propósito do lançamento de um estudo do observatório social para a Inteligência Artificial (IA) da Universidade Nova.

 

Contudo, referiu que existem menos alunos nas escolas interessados nesta área, o que disse ser reflexo do facto de a profissão não estar a conseguir ser atrativa, devido a fatores como baixos salários e contratos precários.

Nelson Ribeiro assinalou ainda que a crise no jornalismo não está associada às novas tecnologias, mas sim ao modelo de negócio que sustentou esta profissão.

"As empresas acreditaram que iam compensar as suas receitas com o digital. Acho que isso é uma utopia. As receitas do digital vão para a Google e para outras tecnológicas", disse.

A jornalista da Agência Lusa Alexandra Luís, por sua vez, também afirmou não acreditar que o jornalismo vá morrer devido à IA, acrescentando que foi em situações de crise que o jornalismo conseguiu mudar o seu rumo.

Para a jornalista, esta é "uma ferramenta como todas as outras" e que, por isso, implica uma constante verificação das informações.

Alexandra Luís defendeu ainda a necessidade de se continuar a investir em literacia mediática, associada aos desafios da IA, lembrando que as empresas têm a obrigação de formar os seus trabalhadores.

"É uma tecnologia que está aí e que não vai desaparecer, só evoluir", insistiu.

No mesmo debate, Joana Ramalho da Universidade Europeia alertou para a necessidade de se olhar para o conhecimento que o público tem ou não tem sobre IA, literacia mediática ou digital.

"Acho fundamental que existam políticas públicas ao nível da literacia, mas é um trabalho que pode ser feito pelas próprias empresas de media, pelo sindicato [dos Jornalistas], pelas escolas e universidades", precisou.

Um estudo do Observatório Social para a Inteligência Artificial e Dados Digitais, da Universidade Nova, apresentado hoje, aconselha as empresas a investir na formação contínua em IA e a antecipar o seu impacto para requalificar os jornalistas e outros profissionais.

Criar diretrizes claras no uso da IA no jornalismo, fomentando a segurança e inovação, são outras recomendações do Observatório, da Universidade Nova de Lisboa, que fez um inquérito em parceria com o Sindicato dos Jornalistas.

Nesse questionário, 59,5% dos inquiridos afirmam já ter ouvido falar da IA, mas não têm uma noção aprofundada do que é, contra os 4% que responderam ter um conhecimento avançado, enquanto 36,5% admitem ter noções básicas da tecnologia.

Os jornalistas estão preocupados com a IA e mais de 70% admitem que o jornalismo pode ser ameaçado pelas tecnologias das grandes empresas tecnológicas.

O relatório do Observatório Social para a Inteligência Artificial e Dados Digitais resulta de um questionário, distribuído pelo Sindicato dos Jornalistas aos seus associados, e foi respondido por 74 profissionais de informação, entre 02 de março e 17 de abril de 2024.

Leia Também: Impacto da IA no jornalismo ainda é "desconhecido" e carece de reflexão

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