'Bobigny 1972', com argumento de Marie Bardiaux-Vaiente e desenho de Carole Mauriel, transpõe para o registo de BD a história de Marie-Claire Chevalier, que foi levada a julgamento por ter feito um aborto clandestino ainda adolescente, depois de ter sido vítima de violação.
Foi o próprio agressor que denunciou a interrupção de gravidez às autoridades, levando Maria-Claire Chevalier a julgamento, juntamente com a mãe, que a ajudou a abortar.
Em tribunal, Marie-Claire Chevalier foi defendida pela advogada e ativista Gisèle Halimi, num caso que ganhou grande impacto mediático na luta pelos direitos das mulheres em França e pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Não sendo uma obra documental, a banda desenhada baseia-se em factos reais, com uma narrativa coral a entrecruzar vários testemunhos e momentos temporais, com as sessões em tribunal, com o drama pessoal de Marie-Claire e com a divulgação contemporânea do chamado 'Manifesto das 343', de 1971, assinado por Simone de Beauvoir.
A advogada Gisèle Halimi aproveitou o julgamento de Marie-Claire para expor a realidade da época em França -- plasmada também naquele 'Manifesto das 343' - de que milhares de mulheres faziam abortos clandestinos por falta de condições sociais e porque corriam o risco de multa ou pena de prisão.
O caso em tribunal, no qual Marie-Claire Chevalier foi absolvida, levou a uma alteração legislativa de despenalização do aborto, aprovada em 1975 pela Assembleia Nacional, e que foi apelidada de 'Lei Veil', adotando o nome da então ministra da Saúde, Simone Veil.
"Esta obra não pretende ser um estudo histórico, muito embora seja baseada em factos reais. Ainda assim, fizemos todos os possíveis por transcrever os eventos descritos da forma mais rigorosa possível, apoiando-nos num conjunto de testemunhos e de fontes documentais", afirmam as autoras no final de 'Bobigny 1972'.
Editado em Portugal pela Asa, 'Bobigny 1972' foi publicado inicialmente em França em 2024, tendo recebido este ano um prémio no festival de banda desenhada de Angoulême.
A banda desenhada é dedicada a Marie-Claire Chevalier que morreu em janeiro de 2022, aos 66 anos.
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