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"Mais árbitras no futebol masculino? Defendo sempre a meritocracia"

O Desporto ao Minuto falou com Tânia Patrão, a primeira mulher a apitar uma final masculina que também divide o seu tempo com a medicina.

Notícia

© Tânia Patrão

Filipe Carmo
19/11/2024 07:51 ‧ há 2 dias por Filipe Carmo

Desporto

Exclusivo

Quando perguntam a Tânia Patrão qual é a sua atividade profissional, a resposta é sempre dupla. Se por um lado é médica na Unidade Local de Saúde de Braga, por outro também é árbitra da Federação Portuguesa de Futebol. Ainda assim, na hora de escolher qual delas é a maior paixão as dúvidas começam a surgir.

 

Foi com apenas 14 anos que Tânia iniciou o curso de arbitragem  na Associação de Futebol de Braga, corria o ano de 2014, e seis anos depois chegou aos quadros da FPF. Atualmente, integra a Categoria CF1, a categoria do campeonato nacional de futebol feminino, ainda que um dos pontos altos deste seu percurso tenha sido a possibilidade de se tornar a primeira mulher a apitar uma final masculina, mais precisamente a Supertaça de Futebol da Associação de Futebol de Braga, no passado mês de agosto, que opôs o Vieira Sport Clube e o Grupo Desportivo de Joane.

O Desporto ao Minuto falou com Tânia Patrão e tentou perceber o que significa ser árbitra de futebol em Portugal e que diferenças existem entre o escalão masculino e o feminino. Já sobre a combinação entre a arbitragem e a medicina, e segundo nos contou a entrevistada, são mais as semelhanças dos que as diferenças.

Se uma árbitra mostrar qualidade e empenho no exercício da sua função, a mesma será uma escolha inata

Começo, inevitavelmente, por falar da Supertaça de Futebol da Associação de Futebol de Braga, jogo em que se tornou a primeira mulher a apitar uma final masculina. Considera que essa nomeação, e a forma positiva como as coisas correram, poderá ter contribuído para que, no futuro, possamos ter mais mulheres a apitar jogos importantes do futebol masculino?

Sim, considero que, de certa forma, esta nomeação irá permitir, num futuro próximo, que a nomeação de árbitras para este tipo de jogos seja algo mais natural. Defendo sempre que a meritocracia deverá prevalecer, ou seja, se uma árbitra mostrar qualidade e empenho no exercício da sua função, a mesma será uma escolha inata. Estamos a quebrar paradigmas para que no futuro esta realidade seja já algo natural e usual. Fico contente por ter a oportunidade de contribuir positivamente para esta mudança de paradigma na arbitragem.
 
Atualmente, a Tânia divide-se entre a arbitragem e a medicina, dois mundos distintos que, ainda assim, acreditamos terem coisas em comum. Quais são as semelhanças que identifica?

Embora pareçam mundos totalmente díspares, identifico bastantes semelhanças que me permitem ser uma melhor profissional em ambas as vertentes. A arbitragem permitiu-me desenvolver a capacidade de tomada rápida de decisão, o trabalho em equipa e liderança, que aplico sistematicamente na minha vida enquanto médica.
 
Em nenhuma destas profissões pode falhar. Não sente necessidade, mesmo que por algumas vezes, de ter um trabalho com menor pressão?

Gosto verdadeiramente do que faço, acho que este é o pilar fundamental em tudo. São duas áreas exigentes e a conciliação de ambas implica um grau de esforço maior. No entanto, as experiências novas que ambas me proporcionam e a possibilidade de fazer algo que gosto verdadeiramente compensam toda a dedicação e sacrifício.
 
O que significa ser árbitra num desporto que tem mais atletas e, também, mais adeptos do sexo masculino?

O número de árbitras aumentou substancialmente nos últimos anos. Há 10 anos, quando entrei neste mundo, era recebida nos jogos com bastante admiração e desconfiança. Atualmente, isso já não é tão evidente. Nos últimos anos tem havido uma aposta crescente na arbitragem feminina e a prova disso é a integração no quadro AAC1 (árbitros assistentes da primeira liga masculina) de uma assistente mulher, a Andreia Sousa.

Ao estarmos tão concentrados no exercício da nossa função dentro de campo abstraímo-nos facilmente dos impropérios da bancadaSer árbitro implica, infelizmente, ser alvo de várias ofensas durante os 90 minutos. Acha que, no seu caso, isso acontece com maior frequência, ou apenas difere em relação ao que é dito?

A falta de cultura desportiva leva a que os árbitros sejam sistematicamente insultados nos vários jogos que arbitram. Há alguns insultos que são dirigidos ao sexo feminino, especificamente, mas na grande maioria dos jogos não sinto essa diferença.
 
Consegue abstrair-se do que é dito nas bancadas quando está no relvado?

Ao estarmos tão concentrados no exercício da nossa função dentro de campo, onde temos de decidir sistematicamente infrações, gerir emocionalmente jogadores e jogadoras e elementos do banco técnico, abstraímo-nos facilmente dos impropérios da bancada. Espero que com as campanhas de sensibilização e o ganho gradual de cultura desportiva, este tipo de comportamentos tenda a diminuir.
 
E em relação ao futebol feminino e ao masculino, tem preferência por algum deles?

Têm características muito próprias, com o futebol feminino a crescer exponencialmente. Gosto de arbitrar ambos.
 
A Tânia está no Ano de Formação Geral na ULS Braga, o que significa que no próximo ano irá dar início à especialidade médica. Isso significa que terá de abrandar as funções como árbitro ou continuará a ser compatível fazer as duas coisas?

Não gosto de fazer planos a longo prazo, pois as coisas estão constantemente a alterar-se. Irá depender muito da especialidade e hospital de formação escolhido, mas tenho o compromisso de conciliar ambas as atividades o máximo de tempo possível.

Notícias ao Minuto © Tânia Patrão  

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