"O consenso é que, enquanto se mantiverem as 'linhas vermelhas' em torno da adesão ao mercado único e à união aduaneira, os impactos económicos positivos serão modestos", escreve o economista Jonathan Portes no estudo "The Brexit files: from referendum to reset".
No programa eleitoral com que ganhou as eleições legislativas, em julho, o Executivo trabalhista prometeu um "reinício" (reset) nas relações a UE, agastadas pelo processo do 'Brexit'.
Como objetivos identificou acordos sobre produtos sanitários e fitossanitários (SPS) para simplificar o comércio de produtos alimentares e plantas, o reconhecimento mútuo das qualificações profissionais, a facilitação das atuações de artistas britânicos na UE e um "pacto de segurança".
Mas vários especialistas têm questionado os benefícios concretos destas propostas, pois o primeiro-ministro, Keir Starmer, está determinado em manter o país fora do mercado único e da união aduaneira europeia.
"O que foi proposto até agora é técnico e de escala reduzida, em vez de uma visão para uma relação substancialmente diferente", escreve outra das autoras, Jannike Wachowiak, que qualifica o plano de "vago".
"Apesar de beneficiarem certos setores, estas propostas pouco contribuiriam para o impacto económico global do Brexit", acrescenta, resultando em "ajustes superficiais" nos acordos existentes.
O relatório, publicado pelo centro de estudos UK in a Changing Europe a poucos dias do quinto aniversário desde que o Reino Unido deixou de ser membro da UE, a 31 de janeiro de 2020, reflete sobre as origens do processo que ficou conhecido por Brexit, o seu impacto e o futuro da relação do país com o bloco europeu.
Num capítulo sobre o efeito no comércio, a economista Emily Fry refere como as exportações de bens do Reino Unido quase estagnaram em comparação com o crescimento registado por outros países ocidentais.
"Uma parte significativa do enfraquecimento no comércio de bens desde 2019 está ligada às barreiras alfandegárias e regulamentares introduzidas" pelo Acordo pós-Brexit, escreveu.
Embora o país tenha sido afetado por várias crises para além do 'Brexit' nos últimos anos, como a pandemia covid-19 e a crise energética provocada pela invasão russa da Ucrânia, as repercussões são evidentes tendo em conta que a UE continua a ser o principal destino das mercadorias britânicas, representando mais de metade (50,4%) do total.
A economista refere que as exportações para a UE por parte de empresas britânicas mais pequenas diminuíram 30%, e cerca de 20 mil empresas cessaram inteiramente as exportações para o mercado europeu.
"Este declínio nas exportações das pequenas e médias empresas contribuiu para uma queda de 13,2% nas exportações de mercadorias para a UE até ao final de 2022. O comércio de mercadorias do Reino Unido registou uma nova descida em 2023 e 2024, e outras estimativas que comparam o crescimento do comércio do Reino Unido com outros países sugerem que as exportações para a UE caíram 27% até ao final de 2023, em parte devido a perturbações nas cadeias de abastecimento", acrescentou.
Leia Também: Reino Unido definiu três pilares para "restabelecer" relações com a UE