"A Europa deve aproximar-se fortemente da China, na vertente comercial", disse Costa Silva, em Macau, e apostar na criação de "uma grande plataforma para defender as trocas comerciais a nível mundial".
Isto apesar da China e da UE terem também tensões comerciais, com Bruxelas a impôr taxas sobre os veículos elétricos chineses no final de 2024, ao que Pequim respondeu com taxas provisórias sobre o brandy europeu, depois de ameaçar com investigações às importações de produtos lácteos e de carne de porco da UE.
Costa Silva acrescentou que uma plataforma comercial poderia abranger ainda países como a Índia, o país mais populoso do planeta, e a Indonésia, a sétima maior economia mundial.
O objetivo seria "substituir o que vamos perder com os Estados Unidos" e "encontrar um mínimo de estabilidade", disse o também professor do Instituto Superior Técnico.
O Presidente norte-americano Donald Trump anunciou na quarta-feira a aplicação de uma tarifa adicional de 25% sobre todos os automóveis importados, que entrará em vigor a 02 de abril. A taxa aplicada atualmente é de 2,5%.
O secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal, Hélder Pedro, disse hoje à Lusa que o país não está diretamente exposto a esta tarifa, porque as exportações destinam-se sobretudo à UE, mas alertou para um "efeito dominó" na economia global.
Costa Silva defendeu que um dos desafios de Portugal como "um país cada vez mais exportador" é diversificar os mercados, uma vez que "70% das exportações vão para a Europa".
"Assistimos a uma deriva nos Estados Unidos da América, que voltou às guerras comerciais", lamentou o antigo ministro.
Costa Silva alertou que a imposição recíproca de tarifas "é lesiva para a Europa, para a Ásia, para a China", mas também para os Estados Unidos.
A reação à decisão de Donald Trump foi imediata na Ásia, com o Japão e a Coreia do Sul a responderem com tarifas de 16% e 15%, respetivamente, nas importações de automóveis dos EUA.
"O protecionismo nunca funcionou", defendeu Costa Silva, que recordou que a imposição de tarifas foi um dos principais fatores que levou à Grande Depressão de na década de 1930.
"Usar cadeias logísticas para as potências se digladiarem vai levar a mais guerra e destruição", acrescentou, apontando o comércio livre como algo que "promove a estabilidade e a paz".
O antigo ministro no governo socialista liderado por António Costa falava durante uma sessão do Festival Literário de Macau dedicada ao tema "Portugal na Encruzilhada. As prioridades para o século XXI".
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