Donald Trump alegou que a estratégia é proteger a indústria norte-americana e corrigir desequilíbrios comerciais, cumprindo promessas eleitorais.
Contudo, mesmo entre os mais fiéis apoiantes, há sérias preocupações sobre o impacto a curto prazo nos índices económicos dos Estados Unidos, quando as bolsas de valores estão a reagir com quedas significativas e a inflação teima em não quebrar.
Na Europa, as medidas de Trump ameaçam sobretudo o setor automóvel, que se prepara para um novo ambiente de declarada guerra comercial.
- Anúncios e Incertezas
Donald Trump prometeu ser "gentil" nesta fase inicial da guerra comercial, deixando a entender que as tarifas serão mais baixas do que as praticadas por outros países, mas a falta de pormenores está a intensificar a apreensão de parceiros e adversários comerciais.
- A justificação do Governo dos EUA
Trump argumentou que outros países "têm-se aproveitado" dos EUA, sendo as tarifas uma forma de promover um "renascer da América" e compensar o défice comercial.
O Presidente norte-americano alegou que as importações elevadas demonstram uma falta de reciprocidade por parte dos parceiros comerciais, prometendo usar as receitas alfandegárias para reduzir o défice orçamental.
- Reações e retaliações
Vários parceiros económicos dos EUA estão a preparar contramedidas.
A União Europeia (UE) anunciou ter preparado um "plano sólido" para retaliar se necessário. Taiwan analisou diversos cenários de taxas alfandegárias (10% e 25%) para definir as respostas adequadas. China e Canadá já impuseram tarifas sobre produtos norte-americanos.
O chefe da diplomacia portuguesa, Paulo Rangel, alinhou pela posição de Bruxelas e defendeu que a resposta deve ser "inteligente e calibrada", admitindo que em alguns setores deve ser dura e noutros deve ser mais moderada, para impedir uma escalada.
- Setor automóvel em alerta
Uma das medidas mais temidas na UE é a possível imposição de 25% de taxas adicionais sobre automóveis fabricados no estrangeiro, bem como componentes automóveis.
Este setor, particularmente na Alemanha, já enfrenta desafios como a queda da procura na China e o aumento de custos.
A imposição de tarifas pode levar à perda de cerca de 300.000 empregos na indústria automóvel alemã e reduzir a rentabilidade de grandes grupos como Volkswagen, Mercedes-Benz e BMW.
Apesar de terem unidades de produção nos EUA (onde empregam 138.000 pessoas), as exportações alemãs para os EUA são significativas (36,8 mil milhões de euros em 2024) e serão diretamente afetadas.
Empresas como a Mercedes-Benz e a Volkswagen admitiram que terão de se adaptar à nova situação.
- Estratégias de apaziguamento
Alguns países estão a tentar evitar as tarifas através de medidas de apaziguamento.
O Vietname, por exemplo, reduziu os direitos alfandegários sobre alguns bens oriundos dos Estados Unidos, enquanto o Japão criou gabinetes de consulta para ajudar as empresas exportadoras a lidar com esta anunciada guerra comercial.
O vizinho México também contactou os EUA para manter o tratado de livre-comércio da América do Norte.
- Reações de mercados bolsistas
A incerteza em torno das tarifas já causou instabilidade nos mercados financeiros, com as bolsas asiáticas e europeias a registarem quedas acentuadas.
Apesar de uma ligeira recuperação nos últimos dias, os investidores permanecem cautelosos e focados na gestão de risco.
- Reforço de alianças estratégicas
Perante a postura protecionista de Washington, alguns países estão a procurar fortalecer laços económicos entre si.
A China, o Japão e a Coreia do Sul pretendem acelerar as negociações para um acordo de livre-comércio e responsáveis europeus também manifestaram a vontade de estreitar as relações entre a UE e o Canadá.
- Riscos de escalada
Uma das principais preocupações de aliados e adversários comerciais dos Estados Unidos é o risco de uma escalada da guerra comercial, sobretudo depois de Trump ter aumentado tarifas em áreas onde já tinham sido impostas anteriormente, algumas ainda durante o primeiro mandato (2017-2021).
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