Madalena Sá Fernandes, escritora de 'Leme' e 'Deriva', partilhou na sua página de Instagram um vídeo no qual dois homens comentam as suas obras e, posteriormente, os conteúdos que partilha na respetiva rede social - com destaque para a sua aparência.
"Ouçam porque vão aprender que há um rosto para a violência doméstica. É só mais um homem triste incomodado porque eu sorrio. Porque tenho fotografias de calções ou de macacão com flores (?). Um homem triste.
Nunca rebateria uma crítica literária. Mas aqui inaugura-se a crítica às fotografias de Instagram, à vida pessoal, e a extraordinária crítica ao sorriso de quem sofreu. A analisar o meu corpo e a pedir pareceres. E depois perguntam porque é que as mulheres insistem em escrever sobre o que vivem. É porque ainda há muito caminho. É porque ainda há pessoas como vocês. A objectificação costuma ser menos gritante. Aqui temos misoginia e machismo sem a menor vergonha. Homens tristes e mulheres que compactuam. Ganhem vergonha.
Pensar que disse ao meu amigo para lhe fazer companhia, por ter pena de o ver sozinho na feira do livro. Continuarei a escrever sobre o que eu quiser. E não abdico do meu sorriso. Não abdiquei por todas as violências que sofri; não vou abdicar por homens tristes, solitários, invejosos. Empenho-me muito no meu trabalho, mas sou mulher", realçou a escritora, partilhando o vídeo com os comentários em questão.
Quem não ficou indiferente à partilha foi o comediante Bruno Nogueira que, acutilante com sempre, esgrimou: "Isto são dois homens lindos a verem o Instagram de uma mulher para criticarem as fotografias dela e o trabalho dela. Como faz qualquer amante de literatura. É por estas e por outras que às vezes era importante uma punh*** antes de dar entrevistas. E depois chorar frente ao espelho pelos sonhos que morreram. E depois sim, falar de mulheres".
À semelhança do comediante, mais figuras públicas reagiram à publicação. Filipa Gomes, por exemplo, escreveu: "Olha que catano. Imagino o quão ferido ficou o seu ego masculino para ter perdido o filtro e deixar que saísse quase tudo o que pensava".
Já Nuno Markl acrescentou: "Ia dizer que isto é a versão crítico literário do clássico dos taxistas 'andam vestidas daquela maneira e depois admiram-se', só que não há aqui versões. Na sua essência, o taxista e este senhor são rigorosamente a mesma coisa, porque não interessa para nada qual deles leu mais livros que o outro".
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