Qualquer resultado que o presidente russo possa apresentar como uma vitória só aumentará o seu domínio interno, afirmou o antigo campeão mundial de xadrez, no dia em que o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, se reuniram em Riade.
"Só haverá liberdade na Federação Russa e o fim do regime de Putin com a vitória da Ucrânia", antecipou Kasparov, durante uma conferência de imprensa, depois de ter discursado na cimeira anual sobre os direitos humanos e a democracia, realizada em Genebra.
"Até uma vitória parcial... Infligir uma derrota a Putin conduziria a uma mudança" na Federação Russa, prosseguiu.
"Se Putin ganhar ou apresentar a questão (dos combates) como uma vitória", por exemplo "conservando territórios" ou obtendo um "levantamento das sanções" que lhe foram impostas, "permanecerá" no poder, considerou este seu opositor de longa data.
Kasparov foi acrescentado em março de 2004 à lista oficial russa de pessoas classificadas pelo regime como "extremistas". Vive exilado em Nova Iorque, desde há 10 anos.
"Um ditador nunca está em perigo se continuar em ascensão", insistiu o ex-xadrezista, hoje com 61 anos, que abandonou em 2005 os campeonatos de xadrez para se dedicar à política.
Garry Kasparov considerou ainda que Donald Trump não percebe "absolutamente nada" a complexidade do conflito na Ucrânia e que a sua equipa tem demasiado medo de lhe dizer que os seus conhecimentos na geopolítica são insuficientes.
Em consequência, espera que Trump seja obrigado a fazer "concessões massivas" para alcançar o objetivo proclamado de acabar com a guerra.
Por outro lado, avançou, "Rubio não é um idiota. Não tem coluna vertebral, mas ainda tem cérebro" e sabe que só pode chegar aí (fim da guerra) se "abandonar tudo a Putin".
Na sua opinião, mesmo que Putin pretenda estar em posição de força, a economia russa "colapsará provavelmente dentro de 12 a 18 meses", intervalo temporal este em que a Ucrânia pode continuar a bater-se, se a Europa lhe fornecer o dinheiro suficiente para comprar armas aos EUA.
"Enquanto o dinheiro for entregue, não penso que ele (Trump) se preocupe" e, "se Trump quiser acabar com a guerra, não é difícil: basta cortar as exportações de petróleo russo", disse Kasparov.
Os ocidentais demonstram, de forma cruel, que não têm uma estratégia coletiva desde que a Federação Russa anexou a península ucraniana da Crimeia, em 2014, ao passo que "Putin tem uma ideia muito simples: permanecer no poder. É tudo. Não há mais ideias".
Insistindo neste ponto: "A guerra é hoje o instrumento mais eficaz, porque não tem mais nada a oferecer à Federação Russa (...). A causa da guerra é Putin e as suas ambições imperiais, que nunca desaparecerão, porque não há mais nada que possa justificar a sua permanência perpétua no poder", garantiu Garry Kasparov.
Na sua opinião, "o império russo deve desaparecer e o futuro da Federação Russa não se situa nas suas fronteiras atuais: deve restituir todos os territórios ocupados -- Crimeia incluída", concluiu.
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