"A delegação democrático-congolesa está a partir de Kinshasa para Luanda. Vamos responder ao convite da mediação angolana", disse à AFP Tina Salama, porta-voz do presidente da RDCongo, Félix Tshisekedi, quando questionada sobre a anunciada ausência do M23.
O anúncio do cancelamento da participação do M23 foi feito pelo porta-voz dos rebeldes, Lawrence Kanyuka, através da rede social X, em que atribui a "instituições internacionais" responsabilidade por impossibilitar as conversações que iam acontecer em Luanda.
Na mensagem, Kanyuka acusou "certas instituições internacionais" de sabotarem os esforços de paz, na sequência das sanções impostas pela União Europeia.
A União Europeia (UE) adotou hoje sanções contra uma refinaria sediada em Kigali e nove pessoas ligadas às recentes ofensivas do grupo rebelde M23 no leste da RDCongo.
O Movimento 23 de Março (M23) tinha anunciado anteriormente que iria enviar cinco delegados a Luanda para participar no diálogo com o Governo da RDCongo, respondendo ao pedido das autoridades angolanas.
Esta seria a primeira oportunidade para uma negociação direta entre o M23 e o governo democrático-congolês, que Kinshasa tinha recusado até agora.
Em Luanda, a Presidência angolana divulgou um comunicado em que afirma que estão criadas "todas as condições" para o início das negociações diretas entre as duas partes.
Questionado sobre o anúncio recente do M23 de que não iria participar nas conversações devido às sanções impostas pela União Europeia aos seus membros, fonte oficial da Presidência disse desconhecer a informação.
"Todas as condições estão criadas para o início amanhã [terça-feira], 18 de março, das negociações diretas, conforme programado", lê-se numa nota da secretaria de imprensa do Presidente angolano, João Lourenço.
A nota distribuída à imprensa refere que a delegação da República Democrática do Congo já se encontra em Luanda e que é esperada ainda hoje a chegada da delegação do M23, à capital angolana.
O M23 - que, segundo a RDCongo e países como os EUA, Alemanha e França, é apoiado pelo Ruanda - controla as capitais das províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul, que fazem fronteira com o Ruanda e são ricas em minerais essenciais para a indústria tecnológica e para o fabrico de telemóveis.
O número de mortos no conflito na capital de Kivu do Norte, Goma, e arredores ultrapassou os 8.500 desde janeiro, de acordo com informações prestadas pelo ministro da Saúde Pública democrático-congolês, Samuel Roger Kamba, no final de fevereiro.
Naquela província, a atividade armada do M23 - um grupo constituído sobretudo por tutsis, que sofreu o genocídio do Ruanda em 1994 - foi retomada em novembro de 2021 com ataques de surpresa contra o exército governamental.
Desde 1998 que o leste da RDCongo está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo Exército, apesar da presença da missão de manutenção da paz da ONU (Monusco).
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