"Nenhum tribunal do mundo funciona assim", declarou o presidente do tribunal, Yitzhak Amit, ao ordenar a suspensão da audiência sobre a demissão de Ronen Bar apenas meia hora após o início.
A decisão deveu-se a numerosas altercações e invetivas na sala entre apoiantes e opositores do Governo.
"Não têm autoridade", gritou ao tribunal um dos apoiantes do executivo, Itzik Bunzel, pai de um soldado israelita morto na guerra em Gaza, segundo a agência de notícias espanhola EFE.
Pouco antes de retomar a sessão, Amit informou que tinha mandado retirar o público da sala para garantir que a audiência decorreria sem problemas.
O objetivo é "permitir que todas as partes envolvidas no debate exponham os pontos de vista sem receios", justificou Amit, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, demitiu Bar em 21 de março, alegando que tinha perdido a confiança no chefe da agência.
Os críticos afirmam que a decisão constitui um conflito de interesses, porque o organismo está a investigar as ligações suspeitas de corrupção que envolvem o gabinete de Netanyahu e o Qatar.
Cinco recursos foram apresentados ao tribunal nas horas que se seguiram ao anúncio da demissão.
O Supremo Tribunal ordenou a suspensão da decisão de demissão no mesmo dia até à audiência de hoje em Jerusalém.
A audiência começou com uma apresentação da posição do Governo pelo advogado Zion Ami, seguindo-se os advogados dos recorrentes e a procuradora-geral do Estado de Israel, Gali Baharav-Miara.
O Supremo Tribunal é responsável por decidir sobre a legalidade da demissão e poderá tomar uma decisão até ao final da semana, segundo a imprensa israelita.
Baharav-Miara considerou na sexta-feira que a demissão do chefe do Shin Bet estava "manchada por um conflito de interesses por parte do primeiro-ministro, devido às investigações criminais que envolvem pessoas que lhe são próximas".
Netanyahu defendeu que o Governo pode decidir a nomeação e a demissão do Shin Bet, e culpou Bar por o organismo não ter conseguido impedir o ataque do Hamas ao território israelita em 07 de outubro de 2023.
Numa carta dirigida ao Supremo Tribunal, Bar considerou que a demissão se deve ao facto de ter enfrentado Netanyahu.
Bar acusou o primeiro-ministro de ter tentado utilizá-lo para atrasar o processo por corrupção conhecido por "Qatargate".
Netanyahu desmentiu as alegações de Bar.
As decisões tomadas por Netanyahu em março de demitir o chefe do Shin Bet, de iniciar um processo de destituição da Procuradora-Geral e de retomar a guerra em Gaza após uma trégua de dois meses reacenderam os protestos contra o executivo.
A oposição acusou o Governo de ter uma atitude ditatorial.
O chamado caso "Qatargate", revelado em parte pelo jornal israelita Haaretz, investiga alegados pagamentos do Qatar, entre maio de 2002 e outubro de 2024, a conselheiros de Netanyahu para melhorar a imagem do país árabe em Israel.
O Qatar, um país que muitos consideram ser um patrono do grupo radical palestiniano Hamas, não tem laços diplomáticos formais com Israel.
O Qatar, que é um mediador-chave para o Hamas nas negociações de cessar-fogo com Israel, nega apoiar o grupo palestiniano.
Leia Também: Netanyahu analisou com Trump medidas contra programa nuclear do Irão