Investigadora alega que invasão agravou situação das mulheres no Afeganistão

A investigadora Catarina Caldeira Martins criticou hoje a ideia de emancipação feminina usada pelo Ocidente na invasão de países como o Afeganistão ou o Iraque, com resultados ainda mais gravosos para as mulheres.

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Lusa
18/04/2025 08:25 ‧ ontem por Lusa

Mundo

Afeganistão

"Ao destruir as infraestruturas, a ocupação vai sempre prejudicar mais as mulheres", disse em entrevista à agência Lusa a professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), alertando que "nenhuma ocupação é libertadora".

 

Nas últimas décadas, no "contexto das políticas neocoloniais", as intervenções militares em países muçulmanos lideradas pelos Estados Unidos da América (EUA) foram, geralmente, acompanhadas de um discurso político que incluía o objetivo de "libertar as mulheres da burca", indicou.

No dia 22, Catarina Caldeira Martins vai proferir a aula inaugural de um programa de pós-graduação em estudos de género da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, Brasil, com coordenação de Márcia Tavares e Vanessa Cavalcanti.

"Na invasão do Afeganistão e também no Iraque, as forças ocidentais também afirmavam que iam libertar as mulheres da opressão", enfatizou à Lusa, invocando uma narrativa oficial do "salvador branco".

Para a investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, é necessário "olhar para a cultura a partir de uma lente feminista", a fim de perceber "como é que se produz a desigualdade das mulheres, e juntar a esse olhar, também, as relações de poder" nos sistemas coloniais.

"As mulheres não europeias, não brancas e não cristãs, por exemplo, sempre foram objeto de dupla opressão, por serem mulheres, racializadas ou colonizadas, e por serem pobres ou por virem de uma zona do globo que foi submetida a políticas coloniais", alegou.

A docente universitária deu o exemplo da mulher negra -- "oprimida por ser negra e por ser mulher" -- e defendeu que "não há uma única receita para as lutas das mulheres".

"Normalmente, há uma receita que pensa que as mulheres são todas iguais", mas não são, o que leva à necessidade de "perceber os lugares mais subalternizados, em que também questionamos o sistema liberal, neocolonial e capitalista", argumentou

Catarina Caldeira Martins adiantou que, nestes estudos, importa igualmente "ver as mulheres pobres, as migrantes, negras ou ciganas", tendo presente que "dentro da mulher há uma diversidade imensa".

"Quando se fala da mulher, vemos a mulher burguesa, branca e europeia, que muitas vezes está a oprimir mulheres de outras classes. As mulheres escravizadas ou colonizadas, essas, estavam sempre a trabalhar", considerou.

A investigadora do CES realçou o valor científico de "um trabalho que permita escutar as mulheres, saber como elas encaram o bem-estar e tentar formular soluções" em diversas regiões do Sul Global.

"Com diferentes formas de olhar o mundo e o sistema, são as mulheres que constroem o seu caminho para a liberdade e para a emancipação", preconizou.

No Brasil, existem "movimentos feministas e de resistência muito fortes, sobretudo de mulheres negras da periferia" de Salvador, no estado da Bahia, em cuja Universidade Federal a docente mantém parcerias académicas regulares.

"Elas precisam muito deste pensamento decolonial", porque "brancas são as patroas", descendentes das famílias portuguesas e europeias que na época colonial "transportaram para ali o modelo branco", observou.

Catarina Caldeira Martins é autora da obra "Mulheres, Raça e Etnicidades. Introdução aos feminismos decoloniais", editada em 2024 pela Imprensa da Universidade de Coimbra.

"O fracasso da ocupação americana do Afeganistão, com a recuperação do país por parte do domínio talibã, remete para uma disputa de poder político internacional cujos discursos se focaram nas mulheres e na sua etnicidade", escreveu na introdução do livro.

Leia Também: Rússia retira Talibãs da lista de organizações terroristas

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