As autoridades romenas e cerca de 20 organizações não-governamentais pediram uma averiguação à plataforma chinesa, após a primeira volta das presidenciais, em 24 de novembro, em que o TikTok catapultou um candidato populista relativamente desconhecido, Calin Georgescu, para a vitória, com 23% dos votos.
"Calin Georgescu era um candidato obscuro, que dava algumas entrevistas a meios de comunicação pouco significativos. Era uma pessoa estranha que espalhava narrativas alucinantes sobre extraterrestres. Nunca o vimos como uma ameaça real. Na noite eleitoral, quando saíram as primeiras projeções dos resultados, ficámos literalmente chocados", relatou, em entrevista à Lusa em Bucareste, Valentin-Alexandru Jucan, presidente interino do Conselho Nacional do Audiovisual (CNA).
"Ele recebeu um milhão e meio de votos e toda a gente começou a perguntar de onde vinham estes votos. O que não conseguíamos ver foi o que aconteceu no TikTok semanas antes do dia das eleições. E agora temos informações mais do que suficiente", relatou.
A conta principal do candidato e "outras centenas de contas dele, que não eram oficiais", divulgaram o mesmo conteúdo e, nas últimas duas semanas antes das eleições, tiveram 90 milhões de visualizações, prosseguiu o responsável.
"Nem a [artista norte-americana] Taylor Swift tem 90 milhões de visualizações em duas semanas", exemplificou.
"Foi este o mecanismo de divulgação e promoção através do TikTok desta pessoa. Vimos tudo depois", acrescentou Valentin Jucan, que sublinhou ter ficado "claro como água" a intervenção da Rússia neste processo.
Georgescu não relatou qualquer despesa de campanha às autoridades eleitorais, mas o presidente do CNA garante que esta operação custou muito dinheiro -- entre 30 e 50 milhões de euros.
Valentin Jucan defende que o TikTok deveria ser sujeito a "sanções", como multas, pela União Europeia (UE) pelo seu papel nas eleições de novembro.
"O dano está feito", declarou.
Antes de novembro, descreveu o responsável do CNA, o TikTok não respondia a qualquer reclamação das autoridades romenas, mas desde então "passou a responder aos pedidos" de Bucareste "em menos de 20 minutos".
Em 17 de dezembro, a Comissão Europeia abriu um processo formal contra o Tiktok por suspeitas de violação da integridade das eleições na Roménia.
O executivo comunitário suspeitava que a empresa não cumpriu a sua obrigação de "avaliar e atenuar adequadamente os riscos sistémicos ligados à integridade das eleições, nomeadamente no contexto das recentes eleições presidenciais romenas de 24 de novembro".
Apesar de o TikTok estar agora a colaborar com as autoridades romenas, no processo eleitoral para a repetição da primeira volta, no domingo, o CNA insiste que Bruxelas tem de concluir o procedimento sobre os acontecimentos de novembro.
Caso contrário, questionou o representante, o que "pode acontecer?".
"Podemos ter a certeza de que, na segunda-feira após as eleições, nós teremos o mesmo tipo de cooperação por parte do TikTok? Temos a certeza de que na próxima segunda-feira alguém da empresa ainda estará lá ou só vai dar 'erro 404'?", perguntou.
O TikTok reconheceu, num comunicado, que "a eleição presidencial romena é um evento significativo sob intenso escrutínio público" e revelou ter desativado, entre novembro e dezembro, dezenas de milhares de contas e removido quase 93 mil perfis falsos.
Na semana passada, a plataforma anunciou o lançamento do Centro Eleitoral Romeno, uma nova campanha de literacia mediática e um "trabalho contínuo" com mais de 20 parceiros de verificação de factos, medidas que "reforçam" a atuação do TikTok para "proteger a plataforma e ligar a comunidade a informações eleitorais fiáveis".
Bruxelas reconheceu a resposta da rede social em relação às eleições.
"Congratulamo-nos com as alterações introduzidas pelo TikTok. Estas incluem uma melhor deteção e rotulagem de contas políticas e mais peritos em língua romena, bem como 120 peritos adicionais para o grupo de trabalho eleitoral romeno que trabalha especialmente em campanhas de influência encobertas e integridade da publicidade", afirmou no início de abril a comissária europeia para a Tecnologia, Henna Virkkunen Virkkunen.
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