Em cada uma das quatro votações diárias na Capela Sistina, cada cardeal é chamado da cadeira onde está sentado para ir entregar o seu boletim, numa sessão marcada por muitas orações e cânticos, um ritual que, usualmente demora uma hora com 60 eleitores, metade do colégio atual.
"É um conclave muito especial porque o número de cardeais é muito elevado, 133, e é por isso que ontem à tarde a votação demorou tanto tempo", afirmou o professor de História da Igreja da Universidade de Navarra, especialista em conclaves.
"Há tantos cardeais novos e quando se trata de votar isso torna a votação mais lenta e é por isso que talvez o fumo tenha saído mais tarde [na quarta-feira] e é possível que hoje o fumo saia também muito mais tarde nas duas ocasiões".
No primeiro dia do conclave, na quarta-feira, os cardeais recolheram às 17:45 (16:45 em Lisboa) e o fumo negro só saiu da Capela Sistina às 21:00 locais, duas horas depois do previsto pela Santa Sé, um atraso três vezes superior ao que sucedeu na primeira votação do último Conclave, de 2013.
Os cardeais fazem duas votações de manhã e, no caso de não existir uma maioria de dois terços, é emitido fumo negro pela chaminé da Capela Sistina, um procedimento que se repete de tarde.
"Todo o cerimonial está pensado para menos cardeais", salientou Onésimo Diaz, recordando que nem a Casa de Santa Marta tinha capacidade para acolher tantos eleitores, tendo sido necessário adaptar outros espaços menores.
"Quando o Papa Francisco foi eleito cabiam todos perfeitamente em Santa Marta, havia espaço para todos", afirmou.
O historiador estimou por isso que, se houver várias votações, o fumo saia mais tarde do que noutros conclaves.
João Paulo II mudou os procedimentos do Conclave, mas Onésimo Diaz não acredita que haja muitas alterações no futuro, apesar de existir uma tendência de alargamento do colégio cardinalício, que duplicou desde o tempo de Paulo VI.
"São coisas que se passam aqui em Roma e no Vaticano, este tipo de coisas é uma eternidade e aqui nunca há pressa. Vivi cinco anos em Roma e sei que, no Vaticano, todas as cerimónias são eternas, porque em Itália eles gostam muito de cerimónias, de liturgia e de cânticos", reconheceu Diaz.
Embora "a maior parte dos mortais" queira que as coisas aconteçam mais depressa, "o Vaticano é outra história", disse, sorrindo.
Contudo, o historiador da universidade da Opus Dei, acredita que ainda hoje ou na sexta-feira será eleito um Papa.
"Certamente com a votação de ontem já vimos quem são os favoritos e os cardeais querem, claro, que saia um Papa rapidamente, sobretudo para saírem do isolamento do silêncio e regressarem aos seus lugares", explicou.
Sempre "na esperança que não sejam os próprios os eleitos", porque "99% dos cardeais não querem ser Papas", acrescentou.
"É lógico que qualquer cardeal pode ser Papa e tem de estar disposto a fazê-lo, mas também há muitos cardeais que estão conscientes de que ser Papa é uma obrigação muito difícil".
Não é por acaso que o lugar onde o Papa se veste pela primeira vez é conhecido como o "quarto das lágrimas": é onde abdica da vida que tinha, salientou.
O decano dos cardeais pediu um sucessor de Pedro e não de Francisco, recordou Onésimo Diaz.
"Por outras palavras, quer um Papa que se aproxime o mais possível de São Pedro, mas é claro que os cardeais são homens do seu tempo, estamos no século XXI e até os cardeais podem pensar que o Papa deve ser um homem do seu tempo", um "Papa mais moderno, ou um Papa pós-moderno".
"E é por isso que há sensibilidades diferentes" numa Igreja marcada pelas divisões entre tradicionalistas e liberais ou entre conservadores e progressistas.
"Estas categorias não são corretas quando se trata de as aplicar aos papas, embora ajudem a interpretar as diferentes sensibilidades dos cardeais", admitiu o historiador, recordando que, depois de eleito, cada pontífice muda de carisma.
E deu o exemplo de Francisco, que "é muito diferente do que era enquanto Cardeal Bergoglio", explicou.
Contudo, o historiador espera um "Papa muito parecido com Francisco e que escolha o nome Francisco II".
"A minha segunda aposta é que será um Papa asiático ou africano para dar à Igreja um sentido mais diferente, mais universal".
Hoje é o segundo dia de votação e ao fim de três dias sem uma maioria de dois terços, os cardeais suspendem a votação durante um dia.
Depois da eleição e do fumo branco, o novo Papa irá escolher o seu nome e será apresentado aos fiéis presentes na Praça de São Pedro.
Nessa ocasião, o Conclave terminará e os cardeais deixarão a Casa de Santa Marta. Só dias depois, como é tradição na Igreja Católica, é que o novo Papa irá presidir à sua missa de início de Pontificado.
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