O Hong Kong Accountability Archive (HKAA) foi lançado em 10 de abril, com um portal na Internet que reúne vídeos de 2.550 incidentes entre maio de 2019 e setembro de 2021, desde casos de violência policial a atos de vandalismo por parte dos manifestantes.
Um porta-voz do HKAA disse que o principal objetivo é ser "um repositório seguro e sustentável de provas", para que todos "possam tirar as suas próprias conclusões (...) e garantir que as gerações futuras têm acesso a estes materiais".
Desde a imposição das leis de segurança nacional em Hong Kong, muitos meios de comunicação independentes e das organizações da sociedade civil foram encerrados e os seus recursos "perdidos ou removidos do domínio público", lamentou o porta-voz.
"Com o tempo, é provável que cada vez mais conteúdo seja removido pelas próprias pessoas devido a preocupações com repercussões legais", alertou o arquivo.
Antes que isso aconteça, o arquivo reuniu conteúdo vindo da comunicação social, de grupos de defesa dos direitos humanos, "repórteres-cidadãos" e ativistas locais, através do trabalho de uma equipa de académicos, ativistas e jornalistas.
"Estamos cientes de que alguns podem não concordar com este processo e podem tomar medidas que visem prejudicar os envolvidos. Para proteger a nossa equipa e as suas famílias de ataques maliciosos, tomámos a precaução de permanecer anónimos", explicou o porta-voz.
Além disso, o HKAA está alojado "de forma a mitigar ataques cibernéticos maliciosos e pedidos legais de remoção", sublinhou o porta-voz.
O arquivo defendeu ser preciso recordar que as manifestações de 2019 "tiveram um amplo apoio entre o povo de Hong Kong e um número significativo exerceu o seu direito de protestar pacificamente", ao que a polícia respondeu com "uso excessivo da força".
A polícia de Hong Kong está sob a tutela do secretário para a Segurança, cargo que em 2019 era ocupado pelo atual líder do Governo do território, John Lee Ka-chiu.
O principal objectivo do HKAA é que "aqueles que violaram o direito de reunião pacífica (...) sejam responsabilizados e que seja realizada uma investigação independente completa sobre o policiamento dos protestos", referiu o porta-voz.
Algo que estaria "firmemente no âmbito das obrigações do governo da RAE [Região Administrativa Especial] de Hong Kong ao abrigo do PIDCP", o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, sublinhou o arquivo.
Uma investigação independente "é essencial para garantir que tais eventos não aconteçam no futuro" e também para melhorar "o policiamento de multidões (...) e a forma como o governo reage às aspirações e aos direitos humanos do povo de Hong Kong", defendeu o HKAA.
Ainda assim, o porta-voz admitiu que "a oportunidade para [fazer] justiça pode demorar anos ou até décadas". "No entanto sabemos que são muitos os exemplos internacionais em que, anos depois de tais acontecimentos, a justiça foi finalmente feita", acrescentou.
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