O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voou esta semana até ao Médio Oriente, onde, para além de acordos e encontros com a realeza, parece estar pronto a receber um 'souvenir' bem chorudo: um avião.
Mas que oferta é esta (e o que está em causa?
A imprensa adiantou esta semana que a família real do Qatar estava a planear oferecer a Trump um Boeing 747-8, avaliado em cerca de 360 milhões de euros, e descrito pelas publicações como "um palácio no céu."
Em Doha, por sua vez, ouviu-se numa primeira instância que esta oferta "não era certa", tendo, entretanto, Trump já reagido de antemão.
"O Departamento de Defesa está a receber oferecido um avião 747 para substituir temporariamente o Air Force One [avião presidencial], com 40 anos, numa transação muito pública e transparente", garantiu o presidente dos EUA, na sua 'rede', Truth Social.
Trump diz que seria um gesto "estúpido" não aceitar...
Na mesma plataforma, Trump escreveu que esta oferta seria um "gesto simpático" do país do Médio Oriente. "Estou muito grato. Não sou o tipo de pessoa que recusa uma oferta destas. Poderia ser uma pessoa estúpida e dizer 'Não, não queremos que nos deem um avião muito caro'", disse, antes de aterrar no país.
Já na terça-feira, a ABC News adiantou que os advogados da Casa Branca e do Departamento de Justiça elaboraram uma análise, que entregaram ao secretário da Defesa, Pete Hegseth, concluindo que é legal o Departamento da Defesa aceitar o avião e depois entregá-lo ao acervo presidencial de Trump, quando este terminar o mandato em 2029, o que lhe permitiria continuar a utilizá-lo como cidadão privado.
... mas 'não há aviões grátis'
A prenda levanta, no entanto, questão de potenciais conflitos de interesses, uma vez que a Constituição dos Estados Unidos proíbe expressamente os funcionários de aceitarem presentes "de um rei, príncipe ou Estado estrangeiro".
Referindo-se a esta regra constitucional, os senadores democratas denunciaram a oferta, afirmando que "cria um claro conflito de interesses, levanta sérias questões de segurança nacional, convida à influência estrangeira e mina a confiança do público no Governo" dos EUA.
O senador democrata Chris Murphy prometeu mesmo bloquear qualquer futura venda de armas a um "país que tenha negócios pessoais diretos com Trump".
Democratas e grupos defensores da governação defenderam como pouco ético - e provavelmente inconstitucional - que o Qatar fizesse esta oferta. "Não é apenas um suborno, é uma influência estrangeira de primeira classe com espaço extra para as pernas", escreveu o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, nas redes sociais.
Nothing says 'America First' like Air Force One, brought to you by Qatar. It’s not just bribery, it’s premium foreign influence with extra legroom. pic.twitter.com/oBqgHbikHf
— Chuck Schumer (@SenSchumer) May 11, 2025
No mesmo sentido, a Citizens for Responsibility and Ethics in Washington, uma organização de boa governação, questionou a legalidade da transferência, sublinhando que a Constituição dos Estados Unidos proíbe os funcionários públicos norte-americanos de aceitarem presentes de governos estrangeiros sem a aprovação do Congresso.
"Isto parece mesmo um país estrangeiro com o qual o presidente tem negócios pessoais, que lhe oferece um presente de 400 milhões de dólares [356 milhões de euros], antes de [Trump] se encontrar com o seu chefe de Estado", afirmou numa declaração o porta-voz da CREW, Jordan Libowitz.
Já esta quarta-feira, a antiga candidata presidencial democrata Hillary Clinton escreveu na rede social X: "Ninguém dá a alguém um jato de 400 milhões de dólares de graça sem esperar nada em troca. Sejam sérios."
No one gives someone a $400 million dollar jet for free without expecting anything in return. Be serious.
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) May 14, 2025
Mas como é o avião?
Segundo a BBC, Trump 'inspecionou' o avião em casa na Florida, nos EUA, em fevereiro. No mesmo mês, o presidente dos EUA disse que "não estava satisfeito com a Boeing" por causa dos atrasos nos dois novos jactos Air Force One que esperava receber diretamente da empresa. Na altura, chegou mesmo a apontar que a Casa Branca podia "comprar um avião ou arranjar um avião, ou algo do género".
A imprensa britânica deu ainda conta de que o avião do Qatar foi fotografado em Palm Beach, no estado norte-americano, em fevereiro, onde Trump o lhe fez um 'inspeção'. Atualmente, estará equipado com três quartos, uma sala privada e um escritório, de acordo com o seu documento de síntese de especificações de 2015.
E hoje?
Já esta quarta-feira, já no Qatar, Donald Trump não mencionou se recebeu uma oferta do Qatar para utilizar um Boeing 747-8 superluxuoso como Air Force One, que, como explicado, poderia manter para uso pessoal após deixar a Casa Branca através da fundação presidencial.
Mas, durante o dia, Trump assistiu à assinatura de um acordo que envolveu muitos aviões - e muitos milhões de dólares. Com o emir do Qatar, Tamim bin Hamad al-Thani, assistiu à assinatura entre o diretor-geral da Boeing, Robert Ortberg, e o homólogo da Qatar Airways, Badr Mohamed al-Meer, de um acordo histórico.
Em causa está a aquisição por parte da companhia aérea de 160 aviões à fabricante norte-americana Boeing por 200 mil milhões de dólares (178 mil milhões de euros).
O Presidente norte-americano visita na quinta-feira a base aérea dos Estados Unidos em Al-Udeid, a maior no Médio Oriente, e sugeriu uma demonstração de aeronaves no local.
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