Uma mulher grávida que se encontra em morte cerebral está a ser mantida viva devido à lei que proíbe o aborto no estado norte-americano da Geórgia. De acordo com a mãe da jovem, a família não tem voto na matéria.
Adriana Smith, de 30 anos, começou a sentir dores de cabeça intensas no início de fevereiro, quando estava grávida de nove semanas do seu segundo filho, noticiou a filial da NBC News WXIA-TV.
A jovem foi observada no Northside Hospital, que lhe terá dado alta sem realizar exames. No dia seguinte, o namorado de Adriana encontrou-a ofegante e a gargarejar.
A grávida foi transportada de urgência para o Hospital Emory Decatur, e transferida para o Emory University Hospital, onde uma tomografia computadorizada revelou que tinha vários coágulos de sangue no cérebro. Adriana ficou em morte cerebral e “tem estado a respirar através de máquinas há mais de 90 dias”.
“É uma tortura para mim. Vejo a minha filha a respirar, mas ela não está lá”, confessou a mãe da jovem, April Newkirk.
Os profissionais de saúde planeiam manter Adriana viva até às 32 semanas de gestação.
É que, recorde-se, o governador republicano Brian Kemp legislou a proibição quase total do aborto em 2019, que só entrou em vigor com a reversão de Roe v. Wade, em 2022.
A lei estabelece, assim, que a interrupção da gravidez é ilegal após seis semanas, ainda que algumas das exceções incluam a proteção da vida e da saúde da mulher, casos de violação e de incesto documentados junto das autoridades, e anomalias fetais.
De facto, April apontou que os profissionais de saúde informaram a família que o feto tem líquido no cérebro e que estão preocupados.
“Ela está grávida do meu neto. Mas ele pode ser cego, pode não ser capaz de andar, pode não sobreviver quando nascer. […] A decisão deveria de ter sido da família. Não estou a dizer que teríamos optado por interromper a gravidez, mas deveríamos ter tido oportunidade de escolha”, lamentou.
Um porta-voz da Emory Healthcare assegurou que as suas unidades de saúde fazem uso do “consenso de especialistas clínicos, literatura médica e orientação legal para apoiar” os seus profissionais nas “recomendações de tratamento individualizadas, em conformidade com as leis de aborto da Geórgia e todas as outras leis aplicáveis”.
“As nossas principais prioridades continuam a ser a segurança e o bem-estar dos pacientes que atendemos”, complementou.
A diretora executiva da SisterSong, a principal queixosa numa ação judicial que contesta a lei do aborto da Geórgia, considerou que os problemas começaram quando Adriana não recebeu o tratamento adequado para os seus sintomas.
"A família merecia o direito de ter poder de decisão. Em vez disso, suportaram mais de 90 dias de retraumatização, custos médicos caros e a crueldade de serem incapazes de avançar para a cura", disse Monica Simpson.
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