A Direção-Geral de Segurança Externa (DGSE) de França indicou que "foi efetivamente obrigada, em diversas ocasiões, ao longo dos últimos anos, a entrar em contacto direto com [o programador russo-francês fundador do Telegram] Pavel Durov para o lembrar das responsabilidades da sua empresa (...) em termos de prevenção de ameaças terroristas e de pornografia infantil".
No entanto, adiantou o organismo, os serviços de informações "refutam vigorosamente" que esses contactos tenham servido para os "alegados pedidos de interdição de contas ligadas a processos eleitorais".
Esta declaração, extremamente rara dos serviços secretos franceses que operam no estrangeiro, surge após uma série de mensagens divulgadas no domingo através da rede social X por Ravel Durov, empresário nascido na Rússia mas naturalizado francês em 2021.
Durov começou por apontar "um Governo da Europa Ocidental" que, segundo disse, queria "silenciar as vozes conservadoras" na Roménia, tendo depois acrescentado "adivinhem qual", com um 'emoji' em forma de baguete como pista.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês respondeu pouco depois, também nas redes sociais, denunciando "alegações totalmente infundadas", mas, horas mais tarde, Pavel Durov foi mais longe.
"Na primavera, no 'Salon des Batailles' do Hôtel de Crillon [em Paris], Nicolas Lerner, chefe dos serviços de informação franceses, pediu-me para banir as vozes conservadoras na Roménia antes das eleições", escreveu.
"Recusei. Não bloqueamos manifestantes na Rússia, na Bielorrússia ou no Irão. Não o faremos na Europa", disse na mesma mensagem.
Hoje, o porta-voz da presidência russa (Kremlin), Dmitri Peskov, ironizou sobre o assunto, desvalorizando as acusações de Durov.
"O facto de os países europeus --- França, Reino Unido e Alemanha --- estarem a interferir nos assuntos internos de outros países não é novidade", disse.
"Estes são apenas alguns exemplos que foram revelados. Acreditem, há certamente muito mais exemplos do que aqueles que conhecemos", acrescentou.
Os romenos votaram no domingo na segunda volta das eleições presidenciais para escolher entre um nacionalista, George Simion, um admirador do Presidente norte-americano, Donald Trump, que defende o fim do apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia, e um centrista pró-europeu, Nicusor Dan.
Este último recebeu 53,6% dos votos, levando o candidato nacionalista a admitir a derrota.
Esta eleição foi uma repetição da votação realizada a 24 de novembro, mas que foi anulada pelo Tribunal Constitucional por suspeita de interferência russa a favor do anterior candidato de extrema-direita, o pró-russo Calin Georgescu, que criticava a União Europeia (UE) e a NATO.
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