"Falar de prevenção do abuso sexual, não é falar de sexo, é proteger"

Rute Agulhas acaba de lançar o seu primeiro livro infantil sobre violência sexual na infância. 'Julieta, a tartaruga que perdeu a carapaça' é um livro destinado às crianças, mas também aos adultos, para que se sintam "melhor preparados" para abordar o tema "de forma correta e sem alarmismos".

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© Global Imagens/Paulo Spranger

Natacha Nunes Costa
19/02/2025 08:06 ‧ há 2 dias por Natacha Nunes Costa

País

Rute Agulhas

'Julieta, a Tartaruga que Perdeu a Carapaça' é o primeiro livro infantil da psicóloga e terapeuta  familiar Rute Agulhas. Nele, a também coordenadora do Grupo Vita (organismo criado pela Igreja Católica para acompanhamento de vítimas de abusos sexuais de menores) aborda o tema da violência sexual contra crianças.

 

O livro, da editora Manuscrito, é destinado aos mais novos, mas também aos pais, familiares e educadores para ajudar a falar de um tema "difícil de abordar".

"Diariamente sinto a necessidade de ter materiais simples e lúdicos que permitam abordar o tema de uma forma clara e que, ao mesmo tempo, se foque nas principais questões que caracterizam este tipo de violência – nomeadamente, o facto de ser sobretudo cometida por pessoas conhecidas e de quem gostamos, de serem pedidos segredos que se revelam inseguros, e da importância em reconhecer as situações abusivas, reagir e revelar/pedir ajuda", começa por explicar Rute Agulhas em entrevista ao Notícias ao Minuto.

"Ou seja, escrevi este livro, por um lado, a pensar nas crianças vítimas de violência sexual que acompanho, com quem trabalho, também no sentido de prevenir futuras situações de abuso sexual e, por outro, a pensar nos pais, familiares e profissionais das várias áreas (acima de tudo da Educação), que me pedem recursos desta natureza – que sejam facilitadores da abordagem de um tema que é sentido, em regra, como difícil de abordar", elaborou.

Enquanto escrevia 'Julieta, a Tartaruga que Perdeu a Carapaça', a psicóloga tinha várias "preocupações", como a "linguagem, que tem necessariamente de ser simples e acessível, com frases mais curtas e centradas no essencial da mensagem que se pretende transmitir". Depois, acrescenta, "porque o livro se destina a crianças mais novas, as ilustrações são fundamentais na transmissão da mensagem, sabendo que uma imagem cativa muito mais e capta a atenção de uma forma mais poderosa do que um texto que é ouvido".

"Aqui, tenho de dar os meus parabéns ao ilustrador [Tiago M.] que fez efetivamente um trabalho magnífico. A imagem da Julieta é simplesmente deliciosa", referiu.

Notícias ao Minuto 'Julieta, a Tartaruga que Perdeu a Carapaça'© Manuscrito

Rute Agulhas considera que falar de abusos sexuais com as crianças e jovens "é necessário" e pode mesmo ajudar "numa eventual situação de risco ou perigo".

"É preciso retirar o tema da violência sexual contra crianças da gaveta dos tabus"É preciso retirar o tema da violência sexual contra crianças da gaveta dos tabus e abordá-lo de uma forma clara e correta, sem rodeios – o que não significa que se utilize uma linguagem sexual explícita. Ao longo de toda a história da Julieta não vemos uma única referência à sexualidade – porque falar de prevenção do abuso sexual não é falar de sexo, é falar de segurança e de proteção", salientou, lembrando que "toda a investigação que já existe nesta área indica de forma clara que as crianças que beneficiam de informação correta e ajustada à sua maturidade sobre o tema da violência sexual e que são envolvidas de forma ativa em programas de prevenção primária de cariz universal não evidenciam maior stress ou preocupação face ao tema".

"Sentem-se mais empoderadas e confiantes, porque sabem o que fazer numa eventual situação de risco ou perigo. Ainda, apresentam uma probabilidade de revelar uma situação abusiva muito maior, quando comparadas com crianças que não beneficiaram deste tipo de abordagem preventiva", especificou.

Conselho para os pais? "Informem-se sobre o tema"

Como psicóloga clínica e forense com quase três décadas de experiência profissional na área da violência sexual contra crianças e jovens, Rute Agulhas não tem dúvidas que os pais têm de estar bem informados: "Trabalho nesta área há 27 anos e o que posso sugerir é que, antes de mais, os pais se informem sobre o tema, para que depois se sintam melhor preparados para o abordar, de forma correta e sem alarmismos".

Vilão da história é um polvo, "que se esconde facilmente"

Sobre 'Julieta, a Tartaruga que Perdeu a Carapaça', Rute Agulhas contou ao Notícias ao Minuto que escolheu o tema dos animais porque, de uma forma geral, "é sempre mais apelativo" para as crianças mais novas. "Desde sempre que as fábulas encerram em si uma magia que é muito única", lembrou.

Já o facto de a Julieta ser uma tartaruga "foi uma escolha intencional, pois é um animal que tem, desde logo, algo que protege o seu corpo". "Em relação ao polvo, foi escolhido por ser um animal que se esconde facilmente e por ter muitos tentáculos, quase como se fossem as diferentes formas de distrair, enganar, manipular e aliciar", tal como fazem os abusadores, concluiu a psicóloga.

Leia Também: Homem suspeito de 220 crimes sexuais vai ser julgado em Leiria

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