"Durante a campanha de escavações do projeto Paleomoz, em 2018, descobrimos um crânio de grandes dimensões, um dos maiores crânios de gorgonopsianos já alguma vez encontrados e este em particular seria o maior carnívoro fóssil até agora descoberto em Moçambique", afirmou Ricardo Araújo à agência Lusa.
Em 1975, o paleontólogo Miguel Telles Antunes descobriu fósseis pertencentes a um gorgonopsiano de menores dimensões em Moçambique, mas o material pouco preservado e incompleto não permitiu identificar a sua espécie.
Desta vez, os paleontólogos encontraram várias partes de um crânio "bastante grande", a medir cerca de 50 centímetros, e "bastante completo", o que lhes permitiu afirmar que se trata do "primeiro fóssil identificável de gorgonopsiano" em Moçambique.
O fóssil encontrado pertence à espécie 'Inostrancevia africana', um tipo de gorgonopsiano que até agora era conhecido na África do Sul e Tanzânia, descreve o artigo científico agora publicado no Swiss Journal of Palaeontology.
Segundo Ricardo Araújo, o estado de conservação destes fósseis permite "ver mesmo muitos detalhes anatómicos".
"Uma das coisas mais impressionantes que descobrimos do crânio é a famosa presa que os gorgonopsianos tinham, um dente substancialmente maior do que os outros" semelhante ao dos tigres-dentes-de-sabre, e "nesse canino uma serrilha no dente".
Para os cientistas, este predador pré-histórico da linhagem dos mamíferos é o "maior carnívoro fossilizado descoberto em Moçambique" até agora.
As afinidades deste com gorgonopsianos da Rússia surpreenderam também os investigadores, apesar de outros registos mundiais serem sobretudo de vários países africanos.
"Levanta uma série de questões sobre o ponto de vista paleobiológico, sobretudo da origem deste grupo de animais, nesta altura em que as temperaturas eram muito mais baixas e, aparentemente, este animais eram de sangue-frio e os animais de sangue-frio tipicamente não conseguem fazer grandes migrações", esclareceu o português.
O achado coloca Moçambique no mapa das grandes descobertas paleontológicas e amplia o conhecimento sobre a biodiversidade dos predadores pré-históricos do continente africano, segundo os especialistas.
A descoberta ajuda também conectar a fauna fossilizada de Moçambique a outras regiões da África e do mundo, reforçando a importância do país na reconstrução da história da vida na Terra.
Além de Ricardo Araújo, investigador do Intituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, o artigo científico é de autoria de Zanildo Macungo, do Museu Nacional de Geologia de Moçambique, e de Julien Bernoit, da Universidade de Witwatersrand, da África do Sul.
Os gorgonopsianos são um dos predadores dominantes do final do período Pérmico, há mais de 250 milhões de anos, antes da grande extinção que abriu caminho para os dinossauros e mamíferos.
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