"Parece que Donald Trump resolveu condenar a vítima e não o agressor", lamenta, em declarações à agência Lusa, Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, que organiza o protesto marcado para as 19h30 em Lisboa e que decorre a par de várias manifestações programadas noutras capitais europeias.
Os Estados Unidos anunciaram na segunda-feira a suspensão do apoio militar à Ucrânia contra a invasão russa, após um confronto público de Trump com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, na semana passada na Casa Branca, a que se seguiu a retirada da partilha de dados dos serviços de informações de Washington com Kyiv.
Além da súbita viragem da política de Washington desde a posse em janeiro do líder republicano, que em campanha prometera terminar rapidamente o conflito iniciado pelo Kremlin há mais de três anos, Pavlo Sadokha critica também que não se veja Trump "a pressionar da mesma maneira a Rússia" e o seu Presidente, Vladimir Putin, em comparação com o que faz com os ucranianos.
"Portanto, isto tudo é uma condenação do povo ucraniano, não é de Zelensky, para ser mais vítima da agressão russa", acusa, lembrando civis, incluindo crianças, "que morrem todos os dias" no seu país.
Em contrapartida, o líder da diáspora ucraniana em Portugal elogia a resposta dos países europeus a este "virar de costas ao sofrimento do povo ucraniano" de Donald Trump, apesar de reconhecer que o apoio de Washington não consegue ser de imediato substituído.
"É muito lamentável, mas por outro lado estamos a ver que a Europa continua a perceber toda a agressão a este abuso [da Rússia] e vai fortalecer a sua defesa", comenta Pavlo Sadokha, a propósito das iniciativas europeias de investimentos substanciais na área da segurança.
O presidente da Associação dos Ucranianos alerta que não será um acordo de trégua que vai terminar o conflito com a Rússia, que "não vai desistir de continuar a atacar a Ucrânia, não vai permitir que a Ucrânia seja soberana e um país democrático", pelo que "a única opção é continuar a lutar pela sobrevivência".
Além disso, refere que a popularidade de Zelensky no seu país apontada por Trump como muito baixa é, na verdade, "bastante elevada", e a forma como o Presidente ucraniano foi destratado pelo homólogo norte-americano na Sala Oval da Casa Branca atinge "todos os ucranianos".
A Ucrânia e os Estados Unidos concordaram na quarta-feira reatar as negociações "num futuro próximo" sobre uma solução para o conflito, o que envolverá um entendimento entre as partes sobre o acesso dos norte-americanos a recursos minerais em território ucraniano.
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