O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, afirmou este domingo que tem "esperança que o Partido Socialista (PS) se abstenha na moção de confiança" e instou o partido liderado por Pedro Nuno Santos a "mostrar que não quer" eleições.
"Ainda tenho uma grande esperança que o Partido Socialista se abstenha na moção de confiança. Tenho esperança que isso venha a acontecer porque espero que o PS esteja à altura das suas responsabilidades", indicou o ministro em entrevista à CNN Portugal.
Para o governante, "ninguém compreenderá que um partido que não tem nenhum problema em se abster numa moção de censura, depois tenha problemas em se abster numa moção de confiança".
Paulo Rangel descartou a ideia que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, queira eleições antecipadas com a apresentação de uma moção de confiança e explicou que, "se o Governo quisesse provocar eleições, tinha uma solução muito simples". "Tinha-se demitido. Não havia mais esclarecimentos e íamos diretos para eleições", adiantou.
No entanto, em vez de se demitir, o Governo propôs uma moção de confiança para "dizer que, para governar, tem de ter condições".
Na ótica de Paulo Rangel, é o PS que "tem de mostrar que não quer" eleições antecipadas e, para isso, tem de se abster na moção de confiança de terça-feira.
"Quem é que tem na mão a estabilidade do país? Quem é que vai decidir se vamos a eleições? Não é o PSD, não é o CDS, não é o Governo. É o Partido Socialista que, com o seu voto, pode evitar eleições", atirou.
"Portanto, se o Partido Socialista diz que não quer instabilidade e que quer esclarecimentos, então que se abstenha na moção de confiança, que faça essa abstenção por serviço e interesse patriótico e depois peça no formato que entender os esclarecimentos que entender", sustentou.
O ministro foi mais longe e acusou o PS de "hipocrisia" se o partido não se abster na moção de confiança. "Ficamos todos satisfeitos. Fica satisfeito o Governo, fica satisfeito o Partido Socialista e ficam satisfeitos os portugueses porque estou convencido de que os portugueses não querem eleições", frisou.
Sublinhe-se que a rejeição de um voto de confiança implica a demissão do Governo. O Presidente da República, face a este cenário, já antecipou que as datas possíveis para realizar Legislativas antecipadas o mais breve possível é em 11 ou 18 de maio.
A atual crise política teve início em fevereiro com a publicação de uma notícia, pelo Correio da Manhã, sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, Spinumviva, detida à altura pelos filhos e pela mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, - e que passou esta semana apenas para os filhos de ambos - levantando dúvidas sobre o cumprimento do regime de incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos públicos e políticos.
Depois de mais de duas semanas de notícias - incluindo a do Expresso de que a empresa Solverde pagava uma avença mensal de 4.500 euros à Spinumviva - de duas moções de censura ao Governo, de Chega e PCP, ambas rejeitadas, e do anúncio do PS de que iria apresentar uma comissão de inquérito, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou a 5 de março a apresentação de uma moção de confiança.
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