A concentração começou, pontualmente, à hora marcada e as centenas de trabalhadores não desmobilizaram durante mais de uma hora, mesmo debaixo de chuva permanente, frio e vento.
Para o dia de hoje está também marcada uma greve e, em declarações aos jornalistas, a dirigente sindical da Federação Nacional dos Sindicatos em Funções Públicas Elisabete Gonçalves apontou para uma adesão à volta dos 80%.
"É preciso que a sociedade civil tome noção de que estes trabalhadores são trabalhadores que desempenham funções muito importantes, são trabalhadores essenciais, desempenham funções sociais justas, estão a receber o salário mínimo nacional e ninguém se compadece pelas suas condições de trabalho", criticou.
Uma das situações denunciadas durante a manifestação é o das assistentes pessoais para pessoas com deficiência, como Benilde Costa, 57 anos, que trabalha para a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente (APPACDM) do Porto e num Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI).
"Os assistentes pessoais nunca foram ouvidos, o nosso salário continua o mesmo de há oito anos atrás e não está regulamentada a nossa profissão", reclamou.
Explicou, por outro lado, que, no que diz respeito à assistência pessoal que presta a pessoas com deficiência através do CAVI, a relação contratual é feita através de comissão de serviço, o que significa que "a qualquer momento pode ficar sem qualquer número de horas".
"Isto realmente é uma precariedade enorme. O nosso contrato não nos permite sequer ser reconhecido a qualquer nível", denunciou, enquanto por trás os manifestantes gritavam "vergonha, vergonha".
Rodrigo Sousa, 54 anos, trabalha há 36 anos como técnico com funções no bloco operatório do Hospital da Prelada, no Porto, e disse à Lusa que fez greve e veio à manifestação pelo facto de estar há "três anos sem um cêntimo de aumento no salário" e ter a progressão na carreira estagnada.
"Não vejo outra forma que não vir para a rua e tentar fazer barulho", defendeu, admitindo, no entanto, não ter esperança que haja mudanças, dando como justificação o facto de o setor social estar "muito associado ao Governo".
De acordo com a sindicalista Elisabete Gonçalves, as reivindicações destes trabalhadores prendem-se não só com a atualização salarial, mas também para que os acordos de cooperação assinados entre o Estado e o setor social "tenham em vista algum valor para os salários dos trabalhadores", além da integração dos trabalhadores na esfera do Estado, uma vez que desempenham funções sociais da responsabilidade do Estado.
Elisabete Gonçalves salientou que "a maioria dos trabalhadores do setor social são mulheres e o valor do ordenado ronda o salário mínimo nacional", calculando que o total de trabalhadores ronde os 300 mil em todo o país.
Denunciou as condições de trabalho "péssimas" em que trabalham, dando como exemplo alguém que vá fazer apoio domiciliário e que, independentemente da condição do utente, "vai sozinha".
"Tem que levar o utente para a casa de banho, lavar o utente e fazer tudo isso sozinha", apontou, acrescentando que há casos de idosos em lares que começam a ser acordados e levantados às 06:00 para se começar a fazer as higienes porque não há funcionários suficientes.
Questionada sobre a atualização recente, de mais de 220 milhões de euros, nos acordos de cooperação entre o Estado e o setor social, Elisabete Gonçalves apontou que essa atualização não acautela uma verba para aumentos salariais e que acomoda apenas o aumento do salário mínimo nacional.
A dirigente sindical disse ainda que a falta de aumentos e as más condições de trabalho estão a provocar outros problemas, nomeadamente pensões baixas, falta de pessoas para trabalhar no setor e funcionários "quase com a mesma idade que os utentes".
O deputado comunista António Filipe esteve presente na ação de protesto, salientando, em declarações à Lusa, que a situação destes trabalhadores demonstra a falta de respeito pelo princípio constitucional de trabalho igual, salário igual, pela ausência de valorização das suas carreiras.
"Manter a solidariedade para com estes trabalhadores, que aliás temos mantido e temos vindo a defender as suas posições, e esperamos ter condições na próxima Assembleia da República para o continuar a fazer com mais capacidade, com mais possibilidades de intervenção", afirmou António Filipe.
[Notícia atualizada às 17h53]
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