Há muito se especulava sobre a possível candidatura de Henrique Gouveia e Melo às eleições presidenciais de 2026, após a sua saída, no final do ano passado, do cargo nas Forças Armadas. O anúncio chegou esta quarta-feira, com o almirante a confirmar que irá avançar com uma candidatura à Presidência da República.
"A minha decisão é avançar com a candidatura à Presidência da República. Ela será anunciada formalmente no dia 29 de maio", disse em entrevista à Rádio Renascença.
E reforçou: "Não, não há dúvidas. Vou ser mesmo candidato".
O que motivou a decisão?
Quando foi questionado sobre o assunto, em 2023, Gouveia e Melo dizia que não iria avançar com uma candidatura a Belém. No entanto, o mundo está agora diferente.
"Mudou bastante desde essa data. A guerra da Ucrânia agravou-se, a tensão na Europa também se agravou, e a eleição do Sr. Trump como presidente dos Estados Unidos veio alterar a configuração internacional", explicou, acrescentando que se estava perante "uma nova tentativa de edificação de uma ordem mundial que pode ser perigosa, ou nos pode afetar de forma significativa".
Mas não foi só o 'mundo lá fora' que o fez repensar a sua decisão, tendo o antigo Chefe do Estado-Maior da Armada destacado que "alguma instabilidade interna que se tem prolongado" também o fez "mudar de opinião".
Que dizem os líderes partidários? Uns recusam comentar, outros apontam o dedo
Gouveia e Melo quer ser "foco" a dias das Legislativas
O líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, criticou o Henrique Gouveia e Melo porque querer ser o "foco" das atenções a três dias das Legislativas.
"Creio que houve uma referência do candidato Gouveia e Melo ao facto de não querer ser protagonista, mas parece-me um mau princípio que alguém que se candidata a uma outra eleição espere por três dias antes das eleições legislativas para se apresentar, parecendo que é um candidato que quer, de facto, fazer uma abordagem em que é o foco", disse.
Sousa Real afirma que "18 de maio é demasiado importante para que seja menosprezado"
A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, destacou que a candidatura de Gouveia e Melo "faz parte da democracia", mas ressalvou que as Legislativas "são demasiado importantes" para se desviar o foco do debate político.
"O dia 18 de maio é demasiado importante para a vida dos portugueses para que seja de alguma forma menosprezado e para que não se coloque o foco naquilo que temos, a este tempo, que estar a discutir", afirmou.
"Era uma notícia que estava definida há muitos meses", diz Paulo Raimundo
Já o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, salientou que o anúncio de Gouveia e Melo às Presidenciais é "uma não notícia" e que não surpreendeu ninguém.
"Eu acho que isso é uma não notícia, porque a notícia seria que Gouveia e Melo não é candidato. Era uma notícia que estava definida há muitos meses, há muito tempo, e que foi agora anunciada", notou, acrescentando: "Nós já sabíamos que ia ser candidato. Alguém estranhou esta notícia? Acho que não".
Rui Tavares sublinha: "O tempo é criticável"
Por sua vez, o porta-voz do Livre, Rui Tavares, também criticou Gouveia e Melo por anunciar a sua candidatura numa altura em que decorre a campanha eleitoral para as eleições legislativas.
"Nós vivemos em democracia e, evidentemente, que o tempo é criticável", sublinhou, notando que: [Gouveia e Melo] "geriu os tempos para anunciar a sua candidatura e, agora, nós gerimos os tempos para comentar o seu anúncio de candidatura".
Mariana Mortágua quer "falar sobre Legislativas"
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, recusou-se a comentar este assunto, dizendo apenas haverá "tempo para falar das Presidenciais" e que queria "falar sobre as Legislativas".
"Eu quero falar sobre Legislativas, eu quero falar sobre trabalho por turnos, eu quero falar sobre horas extra, eu quero falar sobre o país que tem os mais longos horários de trabalho, com salários mais curtos e os preços das casas mais caros. Porque quando chegar o fim do mês, é disso que as pessoas querem saber, é se o seu salário é suficiente para pagar a conta da luz, a renda, a prestação ao banco", sustentou.
Pedro Nuno Santos "focado" nas Legislativas
Também o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, não quis comentar o anúncio de Gouveia e Melo e afirmou estar "focado" nas eleições legislativas.
"Não tenho nenhum comentário a fazer a esse anúncio. Estamos numa campanha para as legislativas e é nisso que estou focado", respondeu aos jornalistas.
Por sua vez, o antigo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, criticou Gouveia e Melo e o seu 'timing'.
"Primeiro, trata-se de uma pessoa que muda de opinião muito facilmente, em segundo lugar que se trata de uma pessoa que parece não perceber a diferença entre eleições legislativas e eleições presidenciais. Essas duas constatações significam dois recursos negativos para quem pretende ser Presidente da República", destacou.
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